Sonetos sobre Sempre de Afonso Duarte

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Sonetos de sempre de Afonso Duarte. Leia este e outros sonetos de Afonso Duarte em Poetris.

Cabelos Brancos

Cobrem-me as fontes já cabelos brancos,
NĂŁo vou a festas. E nĂŁo vou, nĂŁo vou.
Vou para a aldeia, com os meus tamancos,
Cuidar das hortas. E nĂŁo vou, nĂŁo vou.

Cabelos brancos, vá, sejamos francos,
Minha inocĂŞncia quando os encontrou
Era um mistério vê-los: Tive espantos
Quando os achei, menino, em meu avĂ´.

Nem caiu neve, nem vieram gelos:
Com a estranheza ingénua da mudança,
Castanhos remirava os meus cabelos;

E, atento à cor, sem ter outra lembrança,
Ruços cabelos me doĂ­a vĂŞ-los …
E fiquei sempre triste de criança.

Riso

Tive o jeito de rir, quando menino,
Até beber as lágrimas choradas:
Com carantonhas, gestos, desatino,
Passou a nuvem e os pequenos nadas.

A rir de escuridões, de encruzilhadas,
Tornei-me afeito logo em pequenino;
Porque ri Ă© que trago as mĂŁos geladas,
E choro porque ri do meu destino.

Vivi de mais num mundo idealizado
Comigo sĂł: E sĂł de mim descreio
Entornava-me riso a luz em cheio

Quando o meu mundo foi principiado;
Rio agora que nĂŁo sei donde me veio
Sempre o mal que me trouxe o bem sonhado.