Soneto V
Eu cantarei de amor tĂŁo novamente,
Se me ouve aquela de quem sempre canto,
Que de mim dor e magoa, e dela espanto
Terá a mais fera, inculta e dura gente.E ela que assi tão crua e indinamente
Dura aos meus choros Ă©, surda ao meu canto,
Algüa parte crerá (se não for tanto
Como eu desejo) do que esta alma sente.Mas como esperarei achar piedade
De mim nem em mim mesmo, se ela nega
(Não peço brandos já) duros ouvidos?Se nega um volver de olhos com que cega
A luz e dá só escuro claridade,
Como serĂŁo meus danos nunca cridos?
Sonetos sobre Sempre de Pero de Andrade Caminha
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Soneto I
De Amor escrevo, de Amor falo e canto;
E se minha voz fosse igual ao que amo,
Esperara eu sentir na que em vĂŁo chamo
Piedade, e na gente dor e espanto.Mas nĂŁo há pena, ou lĂngua, ou voz, ou canto
Que mostre o amor por que eu tudo desamo,
Nem o vivo fogo em que me sempre inflamo,
Nem de meus olhos o contino pranto.Assi me vou morrendo, sem ser crida
A causa por que em vĂŁo mouro contente,
Nem sei se isto que passo Ă© vida ou morte.Mas inda da que eu amo fosse ouvida
E crida minha voz, e da vĂŁ gente
Nunca entendida fosse minha sorte!