SilĂŞncios
Largos SilĂŞncios interpretativos,
Adoçados por funda nostalgia,
Balada de consolo e simpatia
Que os sentimentos meus torna cativos.Harmonia de doces lenitivos,
Sombra, segredo, lágrima, harmonia
Da alma serena, da alma fugidia
Nos seus vagos espasmos sugestivos.Ó Silêncios! ó cândidos desmaios,
Vácuos fecundos de celestes raios
De sonhos, no mais lĂmpido cortejo…Eu vos sinto os mistĂ©rios insondáveis,
Como de estranhos anjos inefáveis
O glorioso esplendor de um grande beijo!
Sonetos sobre Sentimentos de Cruz e Souza
28 resultadosSempre O Sonho
Para encantar os cĂrculos da Vida
Ă‹ ser tranqĂĽilo, sonhador, confiante,
Sempre trazer o coração radiante
Como um rio e rosais junto de ermida.Beber na vinha celestial, garrida
Das estrelas o vinho flamejante
E caminhar vitorioso e ovante
Como um deus, com a cabeça enflorescida.Sorrir, amar para alargar os mundoe
Do Sentimento e para ter profundos
Momentos de momentos soberanos.Para sentir em torno Ă terra ondeando
Um sonho, sempre um sonho além rolando
Vagas e vagas de imortais oceanos.
O Cego Do Harmonium
Esse cego do harmonium me atormenta
E atormentando me seduz, fascina.
A minh’alma para ele vai sedenta
Por falar com a sua alma peregrina.O seu cantar nostálgico adormenta
Como um luar de mĂłrbida neblina.
O harmonium geme certa queixa lenta,
Certa esquisita e lânguida surdina.Os seus olhos parecem dois desejos
Mortos em flor, dois luminosos beijos
Fanados, apagados, esquecidos…Ah! eu não sei o sentimento vário
Que prende-me a esse cego solitário,
De olhos aflitos como vĂŁos gemidos!
Mundo InaccessĂvel
Tu’alma lembra um mundo inaccessĂvel
Onde só astros e águias vão pairando,
Onde só se escuta, trágica, cantando,
A sinfonia da AmplidĂŁo terrĂvel!Alma nenhuma, que nĂŁo for sensĂvel,
Que asas nĂŁo tenha para as ir vibrando,
Essa regiĂŁo secreta desvendando,
Falece, morre, num pavor incrĂvel!É preciso ter asas e ter garras
Para atingir aos ruĂdos de fanfarras
Do mundo da tu’alma augusta e forte.É preciso subir Ăgneas montanhas
E emudecer, entre visões estranhas,
Num sentimento mais sutil que a Morte!
Eternidade Retrospectiva
Eu me recordo de já ter vivido,
Mudo e sĂł, por olĂmpicas Esferas,
onde era tudo velhas primaveras
E tudo um vago aroma indefinido.Fundas regiões do Pranto e do Gemido
Onde as almas mais graves, mais austeras
Erravam como trĂŞmulas quimeras
Num sentimento estranho e comovido.As estrelas, longĂnquas e veladas,
Recordavam violáceas madrugadas,
Um clarão muito leve de saudade.Eu me recordo d’imaginativos
Luares liriais, contemplativos
Por onde eu já vivi na Eternidade!
Eterno Sonho
Quelle est donc cette femme?
Je ne comprendrai pas.
Félix ArversTalvez alguém estes meus versos lendo
NĂŁo entenda que amor neles palpita,
Nem que saudade trágica, infinita
Por dentro dele sempre está vivendo.Talvez que ela não fique percebendo
A paixĂŁo que me enleva e que me agita,
Como de uma alma dolorosa, aflita
Que um sentimento vai desfalecendo.E talvez que ela ao ler-me, com piedade,
Diga, a sorrir, num pouco de amizade,
Boa, gentil e carinhosa e franca:— Ah! bem conheço o teu afeto triste…
E se em minha alma o mesmo nĂŁo existe,
É que tens essa cor e é que eu sou branca!
Domus Aurea
De bom amor e de bom fogo claro
Uma casa feliz se acaricia…
Basta-lhe luz e basta-lhe harmonia
Para ela nĂŁo ficar ao desamparo.O Sentimento, quando Ă© nobre e raro,
Veste tudo de cândida poesia…
Um bem celestial dele irradia,
Um doce bem, que nĂŁo Ă© parco e avaro.Um doce bem que se derrama em tudo,
Um segredo imortal, risonho e mudo,
Que nos leva debaixo da sua asa.E os nossos olhos ficam rasos d’água
Quando, rebentos de uma oculta mágoa,
São nossos filhos todo o céu da casa.
Sentimentos Carnais
Sentimentos carnais, esses que agitam
Todo o teu ser e o tornam convulsivo…
Sentimentos indĂ´mitos que gritam
Na febre intensa de um desejo altivo.Ânsias mortais, angústias que palpitam,
Vãs dilacerações de um sonho esquivo,
Perdido, errante, pelos céus, que fitam
Do alto, nas almas, o tormento vivo.Vãs dilacerações de um Sonho estranho,
Errante, como ovelhas de um rebanho,
Na noite de hóstias de astros constelada…Errante, errante, ao turbilhão dos ventos,
Sentimentos carnais, vĂŁos sentimentos
De chama pelos tempos apagada…