Soneto XXXX
Num seco ramo, nĂș de fruto e folha,
Ua queixosa rola geme e sente
Do casto ninho seu parceiro ausente,
E vĂȘ-lo a cada sombra se lhe antolha.Dali dece a ua fonte onde recolha
Algum alento, e porque nĂŁo consente
A dor ver ĂĄgua clara, juntamente
A envolve c’os pĂ©s e o bico molha.Se ausĂȘncia e amor sentida a rola tem,
Que nem de ausĂȘncia, nem de amor conhece,
Em quem pesar nem sentimento cabe,Que farĂŁo em quem sente o que padece
Quem de seu mal conhece, e de seu bem
Temo que venha a nĂŁo sentir, e acabe.
Sonetos sobre Sentir de Vasco Mouzinho de Quebedo
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Soneto XXIX
Que mal Ă© este meu tĂŁo diferente?
NĂŁo Ă© dos males grandes natureza
Ou se acabarem logo sem firmeza,
Ou acabarem logo a quem os sente?Seu natural custume nĂŁo consente
Minha ventura, pois minha fraqueza
Como dura: do mal tem fortaleza
Por mais tempo sentir meu acidente.Sou qual FĂ©nix que morre e ressuscita,
Ou como Prometeu que lĂĄ se queixa,
E por sentir mais dor se nĂŁo consume.NĂŁo dizem que o costume e tempo incita
A não sentir-se a dor: té nisto deixa
O tempo, e o custume, seu custume.