Sonetos sobre Serenos de Camilo Pessanha

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Sonetos de serenos de Camilo Pessanha. Leia este e outros sonetos de Camilo Pessanha em Poetris.

Estátua

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, de frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatĂŞ-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessĂŁo! Para bebĂŞ-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu Ăłsculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre o mármore correto
Desse entreaberto lábio gelado…

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um tĂşmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

Desce em Folhedos Tenros a Colina

Desce em folhedos tenros a colina:
Em glaucos, frouxos tons adormecidos,
Que saram, frescos, meus olhos ardidos,
Nos quais a chama do furor declina…

Oh vem, de branco, do imo da folhagem!
Os ramos, leve, a tua mĂŁo aparte.
Oh vem! Meus olhos querem desposar-te,
Refletir virgem a serena imagem.

De silva doida uma haste esquiva.
QuĂŁo delicada te osculou num dedo
Com um aljĂ´far cor de rosa viva!…

Ligeira a saia… Doce brisa impele-a…
Oh vem! De branco! Do imo do arvoredo!
Alma de silfo, carne de camĂ©lia…