Beijos No Ar
No silĂȘncio da noite, alta e deserta,
inebriante, férvido sintoma,
uma fragrĂąncia feminina assoma
e tentadoramente me desperta.Entrou-me, em ondas, a janela aberta,
como se se quebrara uma redoma,
da qual fugira o delirante aroma,
que o mistério do amor assim me oferta.De que dama-da-noite ou jasmineiro,
de que magnĂłlia em flor, em fevereiro,
se exala esse cĂĄlido desejo?Ela sonha comigo: esse perfume
vem da sua saudade, que presume,
embora em sonho, ter-me dado um beijo!
Sonetos sobre SilĂȘncio de Martins Fontes
3 resultadosLongus
Ă de manhĂŁ, no outono. Ă luz, o orvalho
doira os mirtais de trĂȘmulas capelas.
e, sobre o solo, recobrindo o atalho,
hĂĄ milhares de folhas amarelas…A Filetas, ao pĂ© de amplo carvalho,
ouvem as narraçÔes e pastorelas,
um rapaz, aindaingĂȘnuo e sem trabalho,
e a mais linda de todas as donzelas…Ă a narrativa do florir dos prados,
que o mais doce dos velhos barbilongos
conta ao casal de jovens namorados…SilĂȘncio… Ouvi-lhe o beijo dos ditongos,
os silĂĄbicos sons, que musicados,
cantam na amĂĄvel pastoral de Longus…
A Ăgua Toda Secou AtĂ© Nos Olhos
â Meu culto ao CearĂĄ, Coração do Brasil.
O rio vai morrer, sem que nada o socorra,
sem que ninguém, jamais, bendiga o moribundo.
Morre na solidĂŁo, no silĂȘncio profundo,
e o malårico mal o mantém em modorra.A enfermidade faz que da boca lhe escorra
o limo, feito fel, viscoso e nauseabundo.
E o terror se lhe vĂȘ das Ăłrbitas ao fundo.
ParalĂtico jaz na estreitez da masmorra.Tu sĂł, tu, meu IrmĂŁo, que a misĂ©ria nĂŁo vence.
Que suportando a sede, a fome, a febre, o frio,
sem que prĂȘmio nenhum teu martĂrio compense.Poeta, herĂłi, semideus, sabes o desvario,
a sobre-humana dor, a bravura, cearense,
de quem se suicidou, vendo morrer o rio.