Sonetos sobre SilĂȘncio

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Sonetos de silĂȘncio escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Uma Dama Dormindo Junto A Uma Fonte

À margem de uma fonte, que corria,
Lira doce dos pĂĄssaros cantores
A bela ocasiĂŁo das minhas dores
Dormindo estava ao despertar do dia.

Mas como dorme SĂ­lvia, nĂŁo vestia
O céu seus horizontes de mil cores;
Dominava o silĂȘncio entre as flores,
Calava o mar, e rio nĂŁo se ouvia,

Não dão o parabém à nova Aurora
Flores canoras, pĂĄssaros fragrantes,
Nem seu Ăąmbar respira a rica Flora.

Porém abrindo Sílvia os dois diamantes,
Tudo a SĂ­lvia festeja, tudo adora
Aves cheirosas, flores ressonantes.

Interrogação

A Guido Batelli

Neste tormento inĂștil, neste empenho
De tornar em silĂȘncio o que em mim canta,
Sobem-me roucos brados Ă  garganta
Num clamor de loucura que contenho.

Ó alma de charneca sacrossanta,
IrmĂŁ da alma rĂștila que eu tenho,
Dize pra onde vou, donde Ă© que venho
Nesta dor que me exalta e me alevanta!

VisÔes de mundos novos, de infinitos,
CadĂȘncias de soluços e de gritos,
Fogueira a esbrasear que me consome!

Dize que mĂŁo Ă© esta que me arrasta?
NĂłdoa de sangue que palpita e alastra…
Dize de que Ă© que eu tenho sede e fome?!

Elegia para a AdolescĂȘncia

E enfim descansaremos sob a verde
resistĂȘncia dos campos escondidos.
Nem pensaremos mais no que hĂĄ-de ser de
nĂłs que entĂŁo seremos definidos.

No mar que nos chamou, no mar ausente,
simples e prolongado que supomos
seremos atirados de repente,
puros e inĂșteis como sempre fomos.

Veremos que as vogais e as consoantes
nĂŁo sĂŁo mais que ornamentos coloridos,
fruto de nossas bocas inconstantes.

E em silĂȘncio seremos transformados,
quando formos, serenos e perdidos,
além das coisas vãs precipitados.

Soneto De Roma

Felizes os que chegam de mĂŁos dadas
como se fosse o instante da partida
e entre as fontes que jorram a ĂĄgua clĂĄssica
dĂŁo em silĂȘncio adeus Ă  claridade.

No dourado crepĂșsculo da tarde
o que nos dividiu agora Ă© soma
e a vida que te dei e que me deste
voa entre os pombos no fulgor de Roma.

Todo fim é começo. A ågua da vida
eterna e musical sustenta o instante
que triunfa da morte nas ruĂ­nas.

Como o verĂŁo sucede Ă  neve fria
um sol final aquece o nosso amor,
devolução da aurora e luz do dia.

MĂșsica Da Hora

Habito a pausa no hĂĄbito da pauta
mĂșsica de silĂȘncios e soluços
a refrear desmandos dos impulsos
que se querem agudos sons de flauta.

A vida Ă© toda mĂșsica em seu curso
do grito original em rima incauta
ao sussurro que se ouve em cama infausta
nesse fim dissonante do percurso.

O tempo se encarrega do metrĂŽnomo
unido a dois ponteiros de um cronĂŽmetro
em que o delgado veste-se de momo

para alegrar as horas do pequeno
que dança a marcha gris em chão sereno
fugindo ao dois por quatro do abandono.

Nos Teus Gestos

Nos teus gestos hĂĄ animais em liberdade
e o brilho doce que sĂł tĂȘm as cerejas.
É neles que adormeço, e dos teus dedos
retiro a luz azul dos arquipélagos.

Os teus gestos sĂŁo letras, sĂ­labas, poemas.
Os teus gestos sĂŁo pĂĄginas inteiras. SĂŁo
a tua boca a namorar na minha boca,
o cio dos séculos a saudar o tempo.

SĂŁo os teus gestos que me acordam. Gestos
que vestem o silĂȘncio fundo das ravinas
e assinalam a ĂĄgua dos desertos.

Os teus gestos sĂŁo mĂșsica. SĂŁo lume.
São a respiração do teu olhar. A seara
de espigas que ondula no meu corpo.

Cruzada Nova

Vamos saber das almas os segredos,
Os círculos patéticos da Vida,
Dar-lhes a luz do Amor compadecida
E defendĂȘ-las dos secretos medos.

Vamos fazer dos ĂĄridos rochedos
Manar a ĂĄgua lustral e apetecida,
Pelos ansiosos coraçÔes bebida
No silĂȘncio e na sombra d’arvoredos.

Essas irmĂŁs furtivas das estrelas,
Se nĂŁo formos depressa defendĂȘ-las,
MorrerĂŁo sem encanto e sem carinho.

Paladinos da lĂ­mpida Cruzada!
Conquistemos, sem lança e sem espada,
As almas que encontrarmos no Caminho.

Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei

Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rĂĄpida noite meu silĂȘncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraĂ­so

Cå fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo

Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento

InefĂĄvel!

Nada hå que me domine e que me vença
Quando a minh’alma mudamente acorda…
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.

Sou como um Réu de celestial Sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no SilĂȘncio borda
D’estrelas todo o cĂ©u em que erra e pensa.

Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outra mais serenas madrugadas!

todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim, porque eu as amo
Na minh’alma volteando arrebatadas!