Tarde Demais…
Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mĂĄgico luar;
E pra o som de teus passos conhecer
PĂŽs-se o silĂȘncio, em volta, a escutar…Chegaste enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que nĂŁo pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar;
E as pedras do caminho florescer!Beijando a areia d’oiro dos desertos
Procura-te em vão! Braços abertos,
PĂ©s nus, olhos a rir, a boca em flor!E hĂĄ cem anos que eu fui nova e linda!…
E a minha boca morta grita ainda:
“Por que chegaste tarde, Ă meu Amor?!…”
Sonetos sobre Som de Florbela Espanca
3 resultadosA Minha Dor
A minha Dor Ă© um convento ideal
Cheio de claustros, sombras, arcarias,
Aonde a pedra em convulsÔes sombrias
Tem linhas dum requinte escultural.Os sinos tĂȘm dobres de agonias
Ao gemer, comovidos, o seu mal…
E todos tĂȘm sons de funeral
Ao bater horas, no correr dos dias…A minha Dor Ă© um convento. HĂĄ lĂrios
Dum roxo macerado de martĂrios,
Tão belos como nunca os viu alguém!Nesse triste convento aonde eu moro,
Noites e dias rezo e grito e choro,
E ninguĂ©m ouve… ninguĂ©m vĂȘ… ninguĂ©m…
Filtro
Meu Amor, nĂŁo Ă© nada: – Sons marinhos
Numa concha vazia, choro errante…
Ah, olhos que nĂŁo choram! Pobrezinhos…
NĂŁo hĂĄ luz neste mundo que os levante!Eu andarei por ti os maus caminhos
E as minhas mĂŁos, abertas a diamante,
HĂŁo de crucificar-se nos espinhos
Quando o meu peito for o teu mirante!Para que corpos vis te nĂŁo desejem,
Hei de dar-te o meu corpo, e a boca minha
Pra que bocas impuras te não beijem!Como quem roça um lago que sonhou,
Minhas cansadas asas de andorinha
HĂŁo-de prender-te todo num sĂł vĂŽo…