Sonetos sobre Sombra de Cruz e Souza

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Sonetos de sombra de Cruz e Souza. Leia este e outros sonetos de Cruz e Souza em Poetris.

SilĂȘncios

Largos SilĂȘncios interpretativos,
Adoçados por funda nostalgia,
Balada de consolo e simpatia
Que os sentimentos meus torna cativos.

Harmonia de doces lenitivos,
Sombra, segredo, lĂĄgrima, harmonia
Da alma serena, da alma fugidia
Nos seus vagos espasmos sugestivos.

Ó SilĂȘncios! Ăł cĂąndidos desmaios,
VĂĄcuos fecundos de celestes raios
De sonhos, no mais lĂ­mpido cortejo…

Eu vos sinto os mistérios insondåveis,
Como de estranhos anjos inefĂĄveis
O glorioso esplendor de um grande beijo!

Cega

Parece-me que a luz imaculada
Que vem do teu olhar, todo doçuras,
NĂŁo verte no meu ser aquelas puras
DelĂ­cias de outra era jĂĄ passada.

Eu creio que essa pĂĄlpebra adorada
NĂŁo mais um flĂłreo empĂ­reo de venturas
Descobre-me — na noite de amarguras,
De dĂșvidas intĂ©rminas cortada.

NĂŁo olhas como olhavas, rindo, outrora,
NĂŁo abres a pupila, como a aurora
Nascendo, abre, feliz, radiosa e calma.

A sombra, nos teus olhos, funda, existe!…
Tu’alma deve ser bem negra e triste
Se os olhos sĂŁo, decerto, o espelho d’alma.

Sinfonias Do Ocaso

Musselinosas como brumas diurnas
Descem do acaso as sombras harmoniosas,
Sombras veladas e musselinosas
Para as profundas solidÔes noturnas.

SacrĂĄrios virgens, sacrossantas urnas,
Os céus resplendem de sidéreas rosas,
Da lua e das Estrelas majestosas
Iluminando a escuridĂŁo das furnas.

Ah! por estes sinfĂŽnicos ocasos
A terra exala aromas de ĂĄureos vasos,
Incensos de turĂ­bulos divinos.

Os plenilĂșnios mĂłrbidos vaporam…
E como que no Azul plangem e choram
CĂ­taras, harpas, bandolins, violinos…

Cruzada Nova

Vamos saber das almas os segredos,
Os círculos patéticos da Vida,
Dar-lhes a luz do Amor compadecida
E defendĂȘ-las dos secretos medos.

Vamos fazer dos ĂĄridos rochedos
Manar a ĂĄgua lustral e apetecida,
Pelos ansiosos coraçÔes bebida
No silĂȘncio e na sombra d’arvoredos.

Essas irmĂŁs furtivas das estrelas,
Se nĂŁo formos depressa defendĂȘ-las,
MorrerĂŁo sem encanto e sem carinho.

Paladinos da lĂ­mpida Cruzada!
Conquistemos, sem lança e sem espada,
As almas que encontrarmos no Caminho.

A Fonte De Águas Cristalinas Corre

A fonte de ĂĄguas cristalinas corre
Chamalotes de prata levantando,
E através de arvoredos murmurando,
Entre arvoredos murmurando morre…

No ocaso, o sol, a luz no oceano escorre
E sempre vejo, as sombras afrontando,
Uma mulher que canta e ri, lavando,
Mesmo que o sol muito abrasado jorre.

É verde o campo, deleitável e ermo.
Påssaros cortam vastidÔes sem termo,
Borboletas azuis roçam nas åguas.

E cantando, a mulher, a rir a face,
Lava cantando como se lavasse
As suas grandes e profundas mĂĄgoas.