Canção Da Formosura
Vinho de sol ideal canta e cintila
Nos teus olhos, cintila e aos lábios desce,
Desce a boca cheirosa e a empurpurece,
Cintila e canta apĂłs dentre a pupila.Sobe, cantando, a limpidez tranqĂĽila
Da tu’alma estrelada e resplandece,
Canta de novo e na doirada messe
Do teu amor, se perpetua e trila…Canta e te alaga e se derrama e alaga…
Num rio de ouro, iriante, se propaga
Na tua carne alabastrina e pura.Cintila e canta na canção das cores,
Na harmonia dos astros sonhadores,
A Canção imortal da Formosura!
Sonetos sobre Sonhadores de Cruz e Souza
6 resultadosImortal Falerno
Quando as Esferas da IlusĂŁo transponho
Vejo sempre tu’alma – essa galera
Feita das rosas brancas da Quimera,
Sempre a vagar no estranho mar do Sonho.Nem aspecto nublado nem tristonho!
Sempre uma doce e constelada Esfera,
Sempre uma voz clamando: – espera, espera,
Lá do fundo de um céu sempre risonho.Sempre uma voz dos Ermos, das Distâncias!
Sempre as longĂnquas, mágicas fragrâncias
De uma voz imortal, divina,pura…E tua boca, Sonhador eterno,
Sempre sequiosa desse azul falerno
Da Esperança do céu que te procura!
Crença
Filha do céu, a pura crença é isto
Que eu vejo em ti, na vastidĂŁo das cousas,
Nessa mudez castĂssima das lousas,
No belo rosto sonhador do Cristo.A crença é tudo quanto tenho visto
Nos olhos teus, quando a cabeça pousas
Sobre o meu colo e que dizer nĂŁo ousas
Todo esse amor que eu venço e que conquisto.A crença é ter os peregrinos olhos
Abertos sempre aos rĂspidos escolhos;
Tê-los à frente de qualquer farolE conservá-los, simplesmente acesos
Como dois fachos — engastados, presos
Nas radiações prismáticas do sol!
Sempre O Sonho
Para encantar os cĂrculos da Vida
Ă‹ ser tranqĂĽilo, sonhador, confiante,
Sempre trazer o coração radiante
Como um rio e rosais junto de ermida.Beber na vinha celestial, garrida
Das estrelas o vinho flamejante
E caminhar vitorioso e ovante
Como um deus, com a cabeça enflorescida.Sorrir, amar para alargar os mundoe
Do Sentimento e para ter profundos
Momentos de momentos soberanos.Para sentir em torno Ă terra ondeando
Um sonho, sempre um sonho além rolando
Vagas e vagas de imortais oceanos.
De Alma Em Alma
Tu andas de alma em alma errando, errando,
como de santuário em santuário.
És o secreto e mĂstico templário
As almas, em silêncio, contemplando.Não sei que de harpas há em ti vibrando,
que sons de peregrino estradivário
Que lembras reverências de sacrário
E de vozes celestes murmurando.Mas sei que de alma em alma andas perdido
Atrás de um belo mundo indefinido
De silĂŞncio, de Amor, de Maravilha.Vai! Sonhador das nobres reverĂŞncias!
A alma da FĂ© tem dessas florescĂŞncias,
Mesmo da Morte ressuscita e brilha!
Repouso
A cabeça pendida docemente
Em sonhos, sonha o sonhador inquieto,
Repousa e nesse repousar discreto
É sempre o sonho o seu bordão clemente.Cego desta Prisão impenitente
Da Terra e cego do profundo Afeto,
O sonho Ă© sempre o seu bordĂŁo secreto
O seu guia divino e refulgente.Nem no repouso encontra a paz que espera,
Para lhe adormecer toda a quimera,
Os cĂrculos fatais do seu Inferno.Entre a calma aparente, a estranha calma,
O seu repouso Ă© sempre a febre d’alma,
O seu repouso Ă© sonho, e sonho eterno.