Sonetos sobre Sonhos de Olegário Mariano

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Sonetos de sonhos de Olegário Mariano. Leia este e outros sonetos de Olegário Mariano em Poetris.

Arrependimento

Deste amor torturado e sem ventura
Resta-me o alĂ­vio do arrependimento.
O pouco que me deste de ternura
NĂŁo vale o que te dei de encantamento.

Abri para o teu sonho o firmamento,
Semeei de estrelas tua noite escura.
Dei-te alma, exaltação e sentimento.
Fiz de um bloco de pedra uma criatura.

Hoje, ambos Ă  mercĂŞ de sorte avessa,
Se para te esquecer luto e me esforço,
Manda-me o coração que não te esqueça.

Padecemos idĂŞntico suplĂ­cio:
Tu – corroĂ­da de pena e de remorso,
Eu – com vergonha do meu sacrifĂ­cio.

Do Meu Tempo

Quando eu era menino e tinha cheia
A alma de sonhos bons e, fugidio,
Como a abelha que voa da colmeia,
Andava a errar do canavial bravio;

Quando em noites de junho o luar macio
Punha um lençol de rendas sobre a areia,
Tiritava de medo ouvindo o pio
Da coruja mais lĂşgubre da aldeia.

Feliz! Bendita essa primeira idade!
Andava como quem anda sonhando
De olhos abertos, com a felicidade.

Dormia tarde e enquanto eu nĂŁo dormia,
MamĂŁe rezava o padre-nosso e quando
Me mandava rezar, eu nĂŁo sabia.

A Ăšltima Cigarra

Todas cantaram para mim. A ouvi-las,
Purifiquei meu sonho adolescente,
Quando a vida corria doidamente
Como um regato de águas intranqüilas.

Diante da luz do sol que eu tinha em frente,
Escancarei os braços e as pupilas.
Cigarras que eu amei! Para possui-las,
Sofri na vida como pouca gente.

E veio o outono… Por que veio o outono ?
Prata nos meus cabelos… Abandono…
Deserta a estrada… Quanta folha morta!

Mas, no esplendor do derradeiro poente,
Uma nova cigarra, diferente;
Como um raio de sol, bateu-me Ă  porta.