Sonetos sobre Traidores

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Sonetos de traidores escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Adamastor Cruel! De Teus Furores

Adamastor cruel! De teus furores
Quantas vezes me lembro horrorizado!
Ó monstro! Quantas vezes tens tragado
Do soberbo Oriente os domadores!

Parece-me que entregue a vis traidores
Estou vendo SepĂșlveda afamado,
Co’a esposa e co’os filhinhos abraçado,
Qual Mavorte com VĂ©nus e os Amores.

Parece-me que vejo o triste esposo,
Perdida a tenra prole e a bela dama,
Às garras dos leĂ”es correr furioso.

Bem te vingaste em nĂłs do afoito Gama!
Pelos nossos desastres Ă©s famoso.
Maldito Adamastor! Maldita fama!

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 10

Adeus, cabana, adeus; adeus, Ăł gado;
Albina ingrata, adeus, em paz te deixo;
Adeus, doce rabil; neste alto freixo
Te fica, ao meu destino consagrado.

Se te for meu sucesso perguntado,
nĂŁo declares, rabil, de quem me queixo;
nĂŁo quero que se saiba vive Aleixo
por causa de uma infame desterrado.

Se vires a pastor desconhecido,
lhe dize entĂŁo piedoso: – Ah! vai-te embora,
atalha os danos, que outros tĂȘm sentido.

Habita nesta aldeia uma pastora,
de rosto belo, coração fingido,
umas vezes cruel, e as mais traidora.

A InocĂȘncia

Caminhando no mundo vai segura
A InocĂȘncia, com grave firme passo.
Sem temor de cair no infame laço
Que arma a traidora mĂŁo, a mĂŁo perjura.

Como nĂŁo obra mal, nem mal procura
Para os seus semelhantes, corre o espaço
Sem lança, sem arnĂȘs, sem peito de aço,
Armada sĂł de consciĂȘncia pura.

Pois que ofensa nĂŁo faz, nĂŁo teme ofensa
E por isso passeia, satisfeita,
Sem as feras temer na selva densa.

TraiçÔes, ódios, vinganças não espreita.
Certa no bem que faz, sĂł nele pensa:
Quem remorsos nĂŁo tem, mal nĂŁo suspeita.

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 6

Quantas vezes Lidora me dizia,
Ao terno peito minha mĂŁo levando:
– Conjurem-se em meu mal os astros, quando
Achares no meu peito aleivosia!

EntĂŁo que nĂŁo chorasse lhe pedia,
Por firme seu amor acreditando.
Ah! que em movendo os olhos, suspirando,
Ao mais acautelado enganaria!

Um ano assim viveu. Oh! céus, agora
Mostrou que era mulher: a natureza,
SĂł por nĂŁo se mudar, a fez traidora.

NĂŁo, nĂŁo darei mais cultos Ă  beleza,
Que depois de faltar à fé Lidora,
Nem creio que nas deusas hĂĄ firmeza.

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 3

Enganei-me, enganei-me – paciĂȘncia!
Acreditei Ă s vezes, cri, Ormia,
Que a tua singeleza igualaria
A tua mais que angĂ©lica aparĂȘncia.

Enganei-me, enganei-me – paciĂȘncia!
Ao menos conheci que nĂŁo devia
PĂŽr nas mĂŁos de uma externa galhardia
O prazer, o sossego e a inocĂȘncia.

Enganei-me, cruel, com teu semblante,
E nada me admiro de faltares,
Que esse teu sexo nunca foi constante.

Mas tu perdeste mais em me enganares:
Que tu nĂŁo acharĂĄs um firme amante,
E eu posso de traidoras ter milhares.

A uns Olhos Negros

Olhos negros, que da alma sois senhores
Duvido com razĂŁo desse atributo,
Que Ă© muito, que quem mata, traga o luto,
E Ă© muito ver na noite resplendores:

Se de negros, meus olhos, tendes cores,
Como as almas vos dĂŁo hoje tributo.
Quem viu que os negros com rigor astuto
Os brancos prenda com grilhÔes traidores.

Mas ah, que foi discreta providĂȘncia
O fazĂȘ-lo da cor da minha sorte,
Por nĂŁo sentir rigor tĂŁo desabrido.

Para que veja assim toda a prudĂȘncia
Que foi prodĂ­gio grande, e pasmo forte,
Em duas noites ver o Sol partido.

Classicismo

LongĂ­nquo descendente dos helenos
pelo espĂ­rito claro, a alma panteĂ­sta,
– amo a beleza esplĂȘndida de VĂȘnus
com uma alegria singular de artista!

Amo a aventura e o belo, amo a conquista!
Nem receio os traidores e os venenos…
– Trago na alma engastada uma ametista,
– meus olhos de esmeraldas sĂŁo serenos!

Com os pés na terra tenho o olhar no céu;
a alma, pura e irrequieta como as linfas
soltas no chĂŁo; nos lĂĄbios, tenho mel…

Meu culto Ă© a liberdade e a vida sĂŁ.
E ainda hoje sigo e persigo as ninfas
com a minha flauta mĂĄgica de PĂŁ!

MarĂ­lia De Dirceu

Soneto 9

Mudou-se enfim Lidora, essa Lidora
Por quem mil vezes fé me foi jurada.
Que vos detém, ó céus, que castigada
Ainda nĂŁo deixais tĂŁo vil traidora?

NĂŁo haja piedade; sinta agora
A dita sem remédio em mal trocada:
Pois, se assim nĂŁo sucede, fica ousada
Para ser outra vez enganadora.

Vingai, Ăł justos cĂ©us…, mas ah! que digo?
Que maltrateis Lidora? – O sentimento
Privou-me do discurso; eu me desdigo.

NĂŁo, nĂŁo vibreis o raio violento;
Pois se que a compaixĂŁo do seu castigo
HĂĄ de aumentar depois o meu tormento.

XLVIII

Traidoras horas do enganoso gosto,
Que nunca imaginei, que o possuĂ­a,
Que ligeiras passastes! mal podia
Deixar aquele bem de ser suposto.

JĂĄ de parte o tormento estava posto;
E meu peito saudoso, que isto via,
As imagens da pena desmentia,
Pintando da ventura alegre o rosto.

Desanda entĂŁo a fĂĄbrica elevada,
Que o plĂĄcido Morfeu tinha erigido,
Das espécies do sono fabricada:

EntĂŁo Ă©, que desperta o meu sentido,
Para observar na pompa destroçada,
Verdadeira a ruĂ­na, o bem fingido.