Sonetos sobre Três

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Sonetos de três escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Negra Fera, Que A Tudo As Garras Lanças

Negra fera, que a tudo as garras lanças,
Já murchaste, insensível a clamores,
Nas faces de Tirsália as rubras flores,
Em meu peito as viçosas esperanças.

Monstro, que nunca em teus estragos cansas,
Vê as três Graças, vê os nus Amores
Como praguejam teus cruéis furores,
Ferindo os rostos, arrancando as tranças!

Domicílio da noute, horror sagrado,
Onde jaz destruída a formosura,
Abre-te, dá lugar a um desgraçado.

Eis desço, eis cinzas palpo… Ah, Morte dura!
Ah, Tirsália! Ah, meu bem, rosto adorado!
Torna, torna a fechar-te, ó sepultura!

Num Jardim Adornado De Verdura

Num jardim adornado de verdura,
a que esmaltam por cima várias flores,
entrou um dia a deusa dos amores,
com a deusa da caça e da espessura.

Diana tomou logo üa rosa pura,
Vénus um roxo lírio, dos milhores;
mas excediam muito às outras flores
as violas, na graça e fermosura.

Perguntam a Cupido, que ali estava,
qual daquelas três flores tomaria,
por mais suave, pura e mais fermosa?

Sorrindo se, o Minino lhe tornava:
todas fermosas são, mas eu queria
V i o l ‘a n t e s que lírio, nem que rosa.

Três Rosas

Sempre, mas sobretudo nas brumosas
Horas da tarde, quando acaba o dia,
Quando se estrela o céu, tenho a mania
De descobrir, de ver almas nas cousas.

Pendem deste gomil três lindas rosas;
Uma é rosada, a outra branca e fria,
Rubra a terceira; e a minha fantasia
Torna-as humanas, vivas, amorosas.

Sei que são rosas, rosas só! mas nada
Impede, enquanto cai lá fora a chuva,
Que a minha mente a fantasiar se ponha:

Por ser noiva a primeira, é que é rosada;
Branca a segunda está, por ser viúva;
A vermelha pecou … e tem vergonha!

Soneto 255 Recordista

Duzentas e cinqüenta e cinco peças
é produção em série, mas apenas
um “quase”, comparado a três centenas,
contanto que em soneto, só, me meças.

Refiro-me ao autor do molde dessas
trezentas dedicadas, não a Helenas,
Marílias, Beatrizes ou morenas
anônimas, amadas meio às pressas;

Porém à tal de Laura! Que feições
seriam tão divinas, se ela abarca
tamanho patrimônio de paixões?

Persigo, só no número, essa marca.
Depois de superar a de Camões,
vou ter que superar a de Petrarca!

Robespierre

Alma inquebrável – bravo sonhador
De um fim brilhante, de um poder ingente,
De seu cérebro audaz, a luz ardente
É que gerava a treva do Terror!

Embuçado num lívido fulgor
Su’alma colossal, cruel, potente,
Rompe as idades, lúgubre, tremente,
Cheia de glórias, maldições e dor!

Há muito que, soberba, ess’alma ardida
Afogou-se cruenta e destemida
– Num dilúvio de luz: Noventa e três…

Há muito já que emudeceu na história
Mas ainda hoje a sua atroz memória
É o pesadelo mais cruel dos reis!…

Versos A Um Coveiro

Numerar sepulturas e carneiros,
Reduzir carnes podres a algarismos,
Tal é, sem complicados silogismos,
A aritmética hedionda dos coveiros!

Um, dois, três, quatro, cinco… Esoterismos
Da Morte! E eu vejo, em fúlgidos letreiros,
Na progressão dos números inteiros
A gênese de todos os abismos!

Oh! Pitágoras da última aritmética,
Continua a contar na paz ascética
Dos tábidos carneiros sepulcrais

Tíbias, cérebros, crânios, rádios e úmeros,
Porque, infinita como os próprios números
A tua conta não acaba mais!

Soneto 252 Qualitativo

Repito que um é dote, dois é dom,
mas três já é defeito, tenha dó!
Camões fez “Alma minha” e o do Jacó:
Terceiro é mui difícil ser tão bom.

A tanto inda acrescento, alto e bom som:
Falar de sentimento, por si só,
não faz de nenhum verso um pão-de-ló,
nem temas de bom tom são só bombom.

Fazer soneto às pencas, outrossim,
não dá patente máxima a ninguém,
nem livra alguém do nível do ruim.

Fiquemos no bom senso, que mantém
a média de dois bons, até pra mim,
que, perto de Camões, sou muito aquém.