Despondency
Deixá-la ir, a ave, a quem roubaram
Ninho e filhos e tudo, sem piedade…
Que a leve o ar sem fim da soledade
Onde as asas partidas a levaram…Deixá-la ir, a vela, que arrojaram
Os tufões pelo mar, na escuridade,
Quando a noite surgiu da imensidade,
Quando os ventos do Sul levantaram…Deixá-la ir, a alma lastimosa,
Que perdeu fé e paz e confiança,
Ă€ morte queda, Ă morte silenciosa…Deixá-la ir, a nota desprendida
D’um canto extremo… e a Ăşltima esperança…
E a vida… e o amor… Deixá-la ir, a vida!
Sonetos sobre Tufões
6 resultadosChoro De Vagas
Não é de águas apenas e de ventos,
No rude som, formada a voz do Oceano.
Em seu clamor – ouço um clamor humano;
Em seu lamento – todos os lamentos.SĂŁo de náufragos mil estes acentos,
Estes gemidos, este aiar insano;
Agarrados a um mastro, ou tábua, ou pano,
Vejo-os varridos de tufões violentos;Vejo-os na escuridão da noite, aflitos,
Bracejando ou já mortos e de bruços,
Largados das marĂ©s, em ermas plagas…Ah! que sĂŁo deles estes surdos gritos,
Este rumor de preces e soluços
E o choro de saudades destas vagas!
Ao EstrĂdulo Solene Dos Bravos
–Â Os TrĂłpicos pulando as palmas batem…
Em pĂ© nas ondas – O Equador dá vivas!…Ao estrĂdulo solene dos bravos! das platĂ©ias,
Prossegues altaneira, oh! Ădolo da arte!…
– O sol pára o curso p’ra bem de admirar-te
– O sol, o grande sol, o misto das idĂ©ias.A velha natureza escreve-te odissĂ©ias…
A estrela, a nĂvea concha, o arbusto… em toda a parte
Retumba a doce orquestra que ousa proclamar-te
Assombro do ideal, em duplas melopéias!Perpassam vagos sons na harpa do mistério
Lá, quando no proscênio te ergues imperando
– Oh! ĂŤbis magistral do mundo azul – sidĂ©rio!EntĂŁo da imensidade, audaz vem reboando
De palmas o tufão, veloz, febril, aéreo
Que cai dentro das almas e as vai arrebatando!…
O Desfecho
Prometeu sacudiu os braços manietados
E sĂşplice pediu a eterna compaixĂŁo,
Ao ver o desfilar dos séculos que vão
Pausadamente, como um dobre de finados.Mais dez, mais cem, mais mil e mais um biliĂŁo,
Uns cingidos de luz, outros ensangĂĽentados…
SĂşbito, sacudindo as asas de tufĂŁo,
Fita-lhe a água em cima os olhos espantados.Pela primeira vez a vĂscera do herĂłi,
Que a imensa ave do céu perpetuamente rói,
Deixou de renascer Ă s raivas que a consomem.Uma invisĂvel mĂŁo as cadeias dilui;
Frio, inerte, ao abismo um corpo morto rui;
Acabara o suplĂcio e acabara o homem.
Com Os Mortos
Os que amei, onde estĂŁo? Idos, dispersos,
arrastados no giro dos tufões,
Levados, como em sonho, entre visões,
Na fuga, no ruir dos universos…E eu mesmo, com os pĂ©s tambĂ©m imersos
Na corrente e à mercê dos turbilhões,
SĂł vejo espuma lĂvida, em cachões,
E entre ela, aqui e ali, vultos submersos…Mas se paro um momento, se consigo
Fechar os olhos, sinto-os a meu lado
De novo, esses que amei vivem comigo,Vejo-os, ouço-os e ouvem-me também,
Juntos no antigo amor, no amor sagrado,
Na comunhĂŁo ideal do eterno Bem.
Eu Vi Dos PĂłlos O Gigante Alado
Eu vi dos pĂłlos o gigante alado,
Sobre um montão de pálidos coriscos,
Sem fazer caso dos bulcões ariscos,
Devorando em silĂŞncio a mĂŁo do fado!Quatro fatias de tufĂŁo gelado
Figuravam da mesa entre os petiscos;
E, envolto em manto de fatais rabiscos,
Campeava um sofisma ensangĂĽentado!– “Quem Ă©s, que assim me cercas de episĂłdios?”
Lhe perguntei, com voz de silogismo,
Brandindo um facho de trovões serĂłdios.– “Eu sou” – me disse, – “aquele anacronismo,
Que a vil coorte de sulfĂşreos Ăłdios
Nas trevas sepultei de um solecismo…”