Sonetos sobre Vento de Francisco Manuel de Melo

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Sonetos de vento de Francisco Manuel de Melo. Leia este e outros sonetos de Francisco Manuel de Melo em Poetris.

Saudades

Serei eu alguma hora tão ditoso,
Que os cabelos, que amor laços fazia,
Por prémio de o esperar, veja algum dia
Soltos ao brando vento buliçoso?

Verei os olhos, donde o sol formoso
As portas da manhã mais cedo abria,
Mas, em chegando a vê-los, se partia
Ou cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?

Verei a limpa testa, a quem a Aurora
Graça sempre pediu? E os brancos dentes,
por quem trocara as pérolas que chora?

Mas que espero de ver dias contentes,
Se para se pagar de gosto uma hora,
Não bastam mil idades diferentes?

Metáfora da Ambição

Vivia aquele Freixo no alto monte,
Verde e robusto: apenas o tocava
O brando vento, apenas o deixava
De abraçar pelos pés aquela fonte.

Tão soberbo despois levanta a fronte,
Como o Pavão, do bosque donde estava,
Envejoso de ver que o mar cortava
Um Pinho que nasceu dele defronte.

Ora saiu da terra e foi navio,
Lutou c’o Mar, lutou c’o vento em guerra:
– Quedas viu ser o que esperava abraços.

Ei-lo que chora em vão seu desvario.
De longe a vê, chegar deseja à terra:
Não lho consente o Mar, nem em pedaços.