LXVII
NĂŁo te cases com Gil, bela serrana;
Que Ă© um vil, um infame, um desastrado;
Bem que ele tenha mais devesa, e gado,
A minha condição é mais humana.Que mais te pode dar sua cabana,
Que eu aqui te nĂŁo tenha aparelhado?
O leite, a fruta, o queijo, o mel dourado;
Tudo aqui acharás nesta choupana:Bem que ele tange o seu rabil grosseiro,
Bem que te louve assim, bem que te adore,
Eu sou mais extremoso, e verdadeiro.Eu tenho mais razĂŁo, que te enamore:
E se nĂŁo, diga o mesmo Gil vaqueiro:
Se Ă© mais, que ele te cante, ou que eu te chore.
Sonetos sobre Verdadeiros de Cláudio Manuel da Costa
2 resultados Sonetos de verdadeiros de Cláudio Manuel da Costa. Leia este e outros sonetos de Cláudio Manuel da Costa em Poetris.
XLVIII
Traidoras horas do enganoso gosto,
Que nunca imaginei, que o possuĂa,
Que ligeiras passastes! mal podia
Deixar aquele bem de ser suposto.Já de parte o tormento estava posto;
E meu peito saudoso, que isto via,
As imagens da pena desmentia,
Pintando da ventura alegre o rosto.Desanda então a fábrica elevada,
Que o plácido Morfeu tinha erigido,
Das espécies do sono fabricada:Então é, que desperta o meu sentido,
Para observar na pompa destroçada,
Verdadeira a ruĂna, o bem fingido.