Sonetos sobre Vez de Agostinho da Cruz

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Sonetos de vez de Agostinho da Cruz. Leia este e outros sonetos de Agostinho da Cruz em Poetris.

Ao Pecado Original

Se sendo, meu Senhor, por vós formado
Adão, antes de ser o mal nascido,
Pecou, que fará quem foi concebido
Nas entranhas, que já tinham pecado?

Comer de um fruito só lhe foi vedado,
Tudo o mais a seu gosto concedido,
E por uma só vez haver caido,
Por muitas ser não posso levantado.

Tão fraca ficou minha natureza,
Que levantar não deixa o pensamento
Da terra, a que está atada e presa,

Tão imiga do meu merecimento,
Que se morder não pode na pureza,
Não deixa de ladrar um só momento.

À Morte

Os correos da morte são chegados,
Por caminhos antigos, impedidos,
Mal com meus olhos, mal com meus ouvidos,
Mal com meus pés, do chão mal levantados.

E mal, por não chorar bem meus pecados,
Que sendo sete, e cinco, meus sentidos,
Por serem tantas vezes repetidos,
Impossível será serem contados.

Se não viera a morte acompanhada
Da conta, que dar devo tão estreita,
Não fora tão penosa imaginada.

Mas a que vivo ou morto tenho feita,
Tenho com meu Senhor na cruz pregada,
Onde o ladrão contrito não se enjeita.