Acusação à Cruz
Ha muito, ó lenho triste e consagrado!
Desfeita podridão, velho madeiro!
Que tens avassalado o mundo inteiro,
Como um pendão de luto levantado.Se o que foi nos teus braços cravejado
Foi realmente a Hostia, o Verdadeiro,
Elle está mais ferido que um guerreiro
Para livrar das flexas do Peccado.Ha muito já que espalhas a tristeza,
Que lutas contra a alegre Natureza,
E vences ó Cruz triste! Cruz escura!Chega-te o inverno, symbolo tremendo!
Queremos Vida e Acção- Fica-te sendo
Um emblema de morte e sepultura!
Sonetos sobre Vida de António Gomes Leal
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Aos Vencidos
Quando é que emfim virá o claro dia,
– O dia glorioso e suspirado! –
Que não corra mais sangue, esperdiçado
Á luz do Sol que os mundos alumia?! –Que os vencidos não vejam a agonia
Do seu tecto de colmo incendiado,
E se ouça retumbar o monte e o prado,
Ao tropel da velloz cavallaria?!Quando é que isto será? – Quando na vida,
Virá ella, a doce hora promettida,
Hora cheia d’amor, e desejada!…Em que fataes Cains, fartos da guerra,
Nosso sangue não beba mais a terra…
– E nem mesmo a Justiça use d’Espada?!