Sonetos sobre Vida de Ary dos Santos

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Sonetos de vida de Ary dos Santos. Leia este e outros sonetos de Ary dos Santos em Poetris.

Soneto

Fecham-se os dedos donde corre a esperança,
Toldam-se os olhos donde corre a vida.
Porquê esperar, porquê, se não se alcança
Mais do que a angĂşstia que nos Ă© devida?

Antes aproveitar a nossa herança
De intenções e palavras proibidas.
Antes rirmos do anjo, cuja lança
Nos expulsa da terra prometida.

Antes sofrer a raiva e o sarcasmo,
Antes o olhar que peca, a mĂŁo que rouba,
O gesto que estrangula, a voz que grita.

Antes viver do que morrer no pasmo
Do nada que nos surge e nos devora,
Do monstro que inventámos e nos fita.

Nona Sinfonia

É por dentro de um homem que se ouve
o tom mais alto que tiver a vida
a glĂłria de cantar que tudo move
a força de viver enraivecida.

Num palácio de sons erguem-se as traves
que seguram o tecto da alegria
pedras que sĂŁo ao mesmo tempo as aves
mais livres que voaram na poesia.

Para o alto se voltam as volutas
hieráticas    sagradas    impolutas
dos sons que surgem rangem e se somem.

Mas de baixo Ă© que irrompem absolutas
as humanas palavras resolutas.
Por deus não basta. É mais preciso o Homem.