XVI
Toda a mortal fadiga adormecia
No silĂŞncio, que a noite convidava;
Nada o sono suavĂssimo alterava
Na muda confusĂŁo da sombra fria:SĂł Fido, que de amor por Lise ardia,
No sossego maior nĂŁo repousava;
Sentindo o mal, com lágrimas culpava
A sorte; porque dela se partia.VĂŞ Fido, que o seu bem lhe nega a sorte;
Querer enternecĂŞ-na Ă© inĂştil arte;
Fazer o que ela quer, Ă© rigor forte:Mas de modo entre as penas se reparte;
Que Ă Lise rende a alma, a vida Ă morte:
Por que uma parte alente a outra parte.
Sonetos sobre Vida de Cláudio Manuel da Costa
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XXXVII
Continuamente estou imaginando,
Se esta vida, que logro, tĂŁo pesada,
Há de ser sempre aflita, e magoada,
Se como o tempo enfim se há de ir mudando:Em golfos de esperança flutuando
Mil vezes busco a praia desejada;
E a tormenta outra vez nĂŁo esperada
Ao pélago infeliz me vai levando.Tenho já o meu mal tão descoberto,
Que eu mesmo busco a minha desventura;
Pois nĂŁo pode ser mais seu desconcerto.Que me pode fazer a sorte dura,
Se para nĂŁo sentir seu golpe incerto,
Tudo o que foi paixão, é já loucura!