Soneto Com Estrambote Enviesado
Alfaiate de mim costuro a roupa
que cabe ao figurino que me coube.Só meu verso protege essa amargura
desfiada de dia ao sol veloz,
para à noite tecer nova textura,
novelo de silêncio ao rés da voz.Enxoval construído nessa usura
solitária de andaimes, num retrós
de linha vertical, que se pendura
na pênsil teia atada, fio em fozdesse rio agulha que me costura
ao rendilhado de águas tropicais,
que sabe de saudades no meu cais.Viageiro de uma sanha que me traz
sempre de volta ao tear do meu destino
na seda depressiva me assassino.
Sonetos sobre Voltas de Anibal Beça
3 resultadosCantares Bacantes (I)
O mar lava a concha cava
e cava concha lava o mar
como a língua limpa lava
tua concha antes de amar.Delírio da estrela d’alva
mistério da preamar
vinda e volta abrindo a aldrava
da concha do paladar.Oh minhas parcas de mel!
Eu me afogo em mar vinho
à espera de algum batel.Sou cantador de cordel:
estórias sabor marinho
bacantes da moscatel.
Ciclo Terreno
Só morta a natureza se comporta
na expectativa podre dessas frutas
amolecidas no chão que as conforta
para o vôo de moscas dissolutas.Esse tempo ruído rói a crosta
de rugas ventiladas na disputa
de asas amaciando a pele morta
deixando à mostra o feto do desfruto.O cheiro cavo amaro pousa às costas
do vento que carrega no azedume
sementes de tanino em seu curtume.São muitos comensais nesse repasto
velando o transitório na certeza
sabendo que outra fruta volta à mesa.