Suprema Ironia
NĂŁo digas que nĂŁo sofro – o meu sofrer profundo
com um sorriso nos lábios muita vez apago…
A dor – Ă© coo a pedra que cai – vai pro fundo
sob a face serena e tranqĂĽila do lago…Um segundo de pura alegria – um segundo
muitas vezes me basta, e já me dou por pago…
Se invejo, invejo aquele que nĂŁo tendo um mundo,
tem mundo para alĂ©m do olhar ardente e vago…Que eu nĂŁo ando a dizer que sofro e me atormento!
É covardia a gente maldizer-se à toa
a viver esta vida entre um ai e um lamento…Eu, nĂŁo! Bem sei que sofro, mas sofrer – que importa ?
Digo aos homens que o mundo Ă© belo, a vida Ă© boa!
E… suprema ironia… a minha voz conforta!
Passagens sobre Sorriso
304 resultadosHai-Kai da Cozinheira
A cozinheira preta preta
Preta e gorda
Com seu frescor sorriso de lua…
Tempo Habitual
De nojo, o tempo, o nosso,
A perfĂdia estrumando
No presumir da carĂcia branda e sorriso
De todos.De raiva o tempo, o nosso,
Céu, mar e terra abrasando
Em clamor de labareda e navalha afiada
E sangue.De pavor o tempo, o nosso,
A primavera assombrando.
ExĂlio de ventres a fecundar e tudo o mais
Que a faz.De amor o tempo, o nosso,
Onde uma voz espalhando
A boa nova do pântano fétido da noite
Imposta?
De nojo, de raiva, de pavor,
O tempo transido
Do nosso viver dia-a-dia!
Mas nĂŁo de amor…
A Invenção do Amor
Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares Ă porta dos edifĂcios pĂşblicos nas
janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anĂşncios de apa-
relhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da
nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amorEm letras enormes do tamanho
do medo da solidĂŁo da angĂşstia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incĂłmodo da monotonia
quotidianaUm homem e uma mulher que tinham olhos e coração e
fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inĂşteis
Apenas o silĂŞncio A descoberta A estranheza
de um sorriso natural e inesperadoNĂŁo saĂram de mĂŁos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
embora subterraneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativoUm homem uma mulher um cartaz de denĂşncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou A TV anuncia
iminente a captura A polĂcia de costumes avisada
procura os dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
Ă© possĂvel que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique Antes
que a invenção do amor se processe em cadeiaHá pesadas sanções para os que auxiliarem os fugitivos
(…)