Passagens sobre Sumo

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A Felicidade nĂŁo Tem Medida

NĂŁo duvidas de que a vida feliz seja o supremo bem; logo, se a vida possui o supremo bem, entĂŁo Ă© sumamente feliz. E tal como o supremo bem nĂŁo pode receber qualquer acrĂ©scimo (o que haveria acima do supremo?!), tambĂ©m a vida feliz o nĂŁo pode, pois a felicidade nĂŁo existe sem o supremo bem. Repara: se disseres que alguĂ©m Ă© “mais” feliz, tornarás possĂ­vel que se diga tambĂ©m “muito mais”; e assim irás fazendo inĂşmeras gradações no supremo bem, quando por “sumo bem” eu entendo tudo o que nĂŁo tem valor algum acima de si. Se alguĂ©m Ă© menos feliz do que um outro, segue-se que preferirá a vida desse outro (por ser mais feliz) Ă  sua prĂłpria; ora, um homem feliz nĂŁo considera nada preferĂ­vel Ă  sua vida.
Qualquer destas duas situações é inaceitável: existir algo que o homem feliz preferiria ter em lugar daquilo que tem, ou não preferir ter algo que seja melhor do que aquilo que tem. De facto, quanto mais um homem é avisado, tanto mais se procurará chegar ao que há de melhor, e ambicionará alcançá-lo seja de que modo for. Ora, como pode ser feliz alguém que pode, que deve mesmo,

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A Guerra

Musa, pois cuidas que Ă© sal
o fel de autores perversos,
e o mundo levas a mal,
porque leste quatro versos
de Horácio e de Juvenal,

Agora os verás queimar,
já que em vão os fecho e os sumo;
e leve o volĂşvel ar,
de envolta como turvo fumo,
o teu furor de rimar.

Se tu de ferir nĂŁo cessas,
que serve ser bom o intento?
Mais carapuças não teças;
que importa dá-las ao vento,
se podem achar cabeças?

Tendo as sátiras por boas,
do Parnaso nos dois cumes
em hora negra revoas;
tu dás golpes nos costumes,
e cuidam que Ă© nas pessoas.

Deixa esquipar Inglaterra
cem naus de alterosa popa,
deixa regar sangue a terra.
Que te importa que na Europa
haja paz ou haja guerra?

Deixa que os bons e a gentalha
brigar ao Casaca vĂŁo,
e que, enquanto a turba ralha,
vá recebendo o balcão
os despojos da batalha.

Que tens tu que ornada histĂłria
diga que peitos ferinos,

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Prazer nĂŁo Significa Felicidade

Aqueles que disseram ser o prazer o sumo bem, viram bem a posição vergonhosa em que o colocaram. Negam eles também que a virtude possa ser separada do prazer e dizem que ninguém pode viver honestamente sem viver agradavelmente, tal como ninguém pode viver agradavelmente sem viver honestamente. Não vejo como elementos tão diversos podem ser postos lado a lado. Porque não se poderá, pergunto-vos, separar a virtude do prazer? Visto que o princípio de todo o bem é a virtude, será ela também a raiz de tudo o que vós amais e desejais? Todavia, se a virtude e o prazer não fossem coisas distintas, não se compreenderia por que razão há umas coisas que são agradáveis, mas desonestas, e outras que são honestíssimas, mas penosas e causadoras de sofrimento.
Acrescenta ainda que, enquanto o prazer se coaduna com uma vida vergonhosa, a virtude não admite uma má vida, e quantos há que são infelizes não por não terem prazer, mas precisamente por causa do prazer, o que não aconteceria se conjugassem o prazer com a virtude, a qual existe muitas vezes sem ele, sem nunca precisar dele para existir.
PorquĂŞ confundir coisas tĂŁo diversas ou mesmo opostas?

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O Amor em Visita

Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lĂşbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.

Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marĂ­timo
e o pĂŁo for invadido pelas ondas –
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele – imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.

Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
– Oh cabra no vento e na urze,

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Mudez Perversa

Que mudez infernal teus lábios cerra
Que ficas vago, para mim olhando,
Na atitude de pedra, concentrando
No entanto, n’alma, convulsões de guerra!

A mim tal fel essa mudez encerra,
Tais demônios revéis a estão forjando
Que antes te visse morto, desabando
Sobre o teu corpo grossas pás de terra.

NĂŁo te quisera nesse atroz e sumo
Mutismo horrĂ­vel que nĂŁo gera nada,
Que nĂŁo diz nada, nĂŁo tem fundo e rumo.

Mutismo de tal dor desesperada,
Que quando o vou medir com o estranho prumo
Da alma fico com a alma alucinada!