A Felicidade nĂŁo Tem Medida
NĂŁo duvidas de que a vida feliz seja o supremo bem; logo, se a vida possui o supremo bem, entĂŁo Ă© sumamente feliz. E tal como o supremo bem nĂŁo pode receber qualquer acrĂ©scimo (o que haveria acima do supremo?!), tambĂ©m a vida feliz o nĂŁo pode, pois a felicidade nĂŁo existe sem o supremo bem. Repara: se disseres que alguĂ©m Ă© “mais” feliz, tornarás possĂvel que se diga tambĂ©m “muito mais”; e assim irás fazendo inĂşmeras gradações no supremo bem, quando por “sumo bem” eu entendo tudo o que nĂŁo tem valor algum acima de si. Se alguĂ©m Ă© menos feliz do que um outro, segue-se que preferirá a vida desse outro (por ser mais feliz) Ă sua prĂłpria; ora, um homem feliz nĂŁo considera nada preferĂvel Ă sua vida.
Qualquer destas duas situações é inaceitável: existir algo que o homem feliz preferiria ter em lugar daquilo que tem, ou não preferir ter algo que seja melhor do que aquilo que tem. De facto, quanto mais um homem é avisado, tanto mais se procurará chegar ao que há de melhor, e ambicionará alcançá-lo seja de que modo for. Ora, como pode ser feliz alguém que pode, que deve mesmo,
Passagens sobre Sumo
26 resultadosA Guerra
Musa, pois cuidas que Ă© sal
o fel de autores perversos,
e o mundo levas a mal,
porque leste quatro versos
de Horácio e de Juvenal,Agora os verás queimar,
já que em vão os fecho e os sumo;
e leve o volĂşvel ar,
de envolta como turvo fumo,
o teu furor de rimar.Se tu de ferir nĂŁo cessas,
que serve ser bom o intento?
Mais carapuças não teças;
que importa dá-las ao vento,
se podem achar cabeças?Tendo as sátiras por boas,
do Parnaso nos dois cumes
em hora negra revoas;
tu dás golpes nos costumes,
e cuidam que Ă© nas pessoas.Deixa esquipar Inglaterra
cem naus de alterosa popa,
deixa regar sangue a terra.
Que te importa que na Europa
haja paz ou haja guerra?Deixa que os bons e a gentalha
brigar ao Casaca vĂŁo,
e que, enquanto a turba ralha,
vá recebendo o balcão
os despojos da batalha.Que tens tu que ornada histĂłria
diga que peitos ferinos,
Prazer nĂŁo Significa Felicidade
Aqueles que disseram ser o prazer o sumo bem, viram bem a posição vergonhosa em que o colocaram. Negam eles tambĂ©m que a virtude possa ser separada do prazer e dizem que ninguĂ©m pode viver honestamente sem viver agradavelmente, tal como ninguĂ©m pode viver agradavelmente sem viver honestamente. NĂŁo vejo como elementos tĂŁo diversos podem ser postos lado a lado. Porque nĂŁo se poderá, pergunto-vos, separar a virtude do prazer? Visto que o princĂpio de todo o bem Ă© a virtude, será ela tambĂ©m a raiz de tudo o que vĂłs amais e desejais? Todavia, se a virtude e o prazer nĂŁo fossem coisas distintas, nĂŁo se compreenderia por que razĂŁo há umas coisas que sĂŁo agradáveis, mas desonestas, e outras que sĂŁo honestĂssimas, mas penosas e causadoras de sofrimento.
Acrescenta ainda que, enquanto o prazer se coaduna com uma vida vergonhosa, a virtude não admite uma má vida, e quantos há que são infelizes não por não terem prazer, mas precisamente por causa do prazer, o que não aconteceria se conjugassem o prazer com a virtude, a qual existe muitas vezes sem ele, sem nunca precisar dele para existir.
PorquĂŞ confundir coisas tĂŁo diversas ou mesmo opostas?
A castanha e o besugo em Fevereiro nĂŁo tem sumo.
O Amor em Visita
Dai-me uma jovem mulher com sua harpa de sombra
e seu arbusto de sangue. Com ela
encantarei a noite.
Dai-me uma folha viva de erva, uma mulher.
Seus ombros beijarei, a pedra pequena
do sorriso de um momento.
Mulher quase incriada, mas com a gravidade
de dois seios, com o peso lĂşbrico e triste
da boca. Seus ombros beijarei.Cantar? Longamente cantar.
Uma mulher com quem beber e morrer.
Quando fora se abrir o instinto da noite e uma ave
o atravessar trespassada por um grito marĂtimo
e o pĂŁo for invadido pelas ondas –
seu corpo arderá mansamente sob os meus olhos palpitantes.
Ele – imagem vertiginosa e alta de um certo pensamento
de alegria e de impudor.
Seu corpo arderá para mim
sobre um lençol mordido por flores com água.Em cada mulher existe uma morte silenciosa.
E enquanto o dorso imagina, sob os dedos,
os bordões da melodia,
a morte sobe pelos dedos, navega o sangue,
desfaz-se em embriaguez dentro do coração faminto.
– Oh cabra no vento e na urze,
Mudez Perversa
Que mudez infernal teus lábios cerra
Que ficas vago, para mim olhando,
Na atitude de pedra, concentrando
No entanto, n’alma, convulsões de guerra!A mim tal fel essa mudez encerra,
Tais demônios revéis a estão forjando
Que antes te visse morto, desabando
Sobre o teu corpo grossas pás de terra.Não te quisera nesse atroz e sumo
Mutismo horrĂvel que nĂŁo gera nada,
Que nĂŁo diz nada, nĂŁo tem fundo e rumo.Mutismo de tal dor desesperada,
Que quando o vou medir com o estranho prumo
Da alma fico com a alma alucinada!