Como se Faz uma Declaração de Amor?
Mas entĂŁo como se faz uma declaração de amor? Em papel selado, na presença de um advogado. Por que nĂŁo? As piores declarações sĂŁo as pĂfias e clandestinas, do gĂ©nero «Acho-te uma pessoa muito interessante». As melhores sĂŁo aquelas que comprometem quem as faz, que se baseiam em provas capazes de serem apresentadas em tribunal, que fazem corar as testemunhas. As declarações do tipo «Experimentar-a-ver-se-dá» nunca dĂŁo. É melhor mandar imprimir 2000 folhetos e distribuĂ-los por avioneta Ă população, devidamente identificados, do que um bilhetinho anĂłnimo de «um admirador». As declarações de amor tĂŞm de cortar a respiração de quem as recebe, tĂŞm de rebentar na cara de quem as lĂŞ. O amor e o terrorismo sĂŁo questões de objectivo, e nĂŁo de grau.
Como estamos todos a zero, ninguém pode dar conselhos a ninguém. Há séculos que as maiores cabeças do mundo procuram a frase perfeita de apresentação. Há as deixas rascas, do género «Deixe-me adivinhar o seu signo» ou «Não costuma cá estar às terças-feiras, pois não?». Há as deixas pirosas, do género «Importa-se que eu lhe diga que você é muito bonita?» ou «Posso só dizer-lhe uma coisa? O seu namorado tem muita sorte!». Depois,
Passagens sobre Terça-feira
3 resultadosAmar e Ser Livre ao mesmo Tempo
Tudo o que posso dizer Ă© que estou louco por ti. Tentei escrever uma carta e nĂŁo consegui. Estou constantemente a escrever-te… Na minha cabeça, e os dias passam, e eu imagino o que pensarás. Espero impacientemente por te ver. Falta tanto para terça-feira! E nĂŁo sĂł terça-feira… Imagino quando poderás ficar uma noite… Quando te poderei ter durante mais tempo… Atormenta-me ver-te sĂł por algumas horas e, depois, ter de abdicar de ti. Quando te vejo, tudo o que queria dizer desaparece… O tempo Ă© tĂŁo precioso e as palavras supĂ©rfluas… Mas fazes-me tĂŁo feliz… porque eu consigo falar contigo. Adoro o teu brilhantismo, as tuas preparações para o voo, as tuas pernas como um torno, o calor no meio das tuas pernas. Sim, Anais, quero desmascarar-te. Sou demasiado galante contigo. Quero olhar para ti longa e ardentemente, pegar no teu vestido, acariciar-te, examinar-te. Sabes que tenho olhado escassamente para ti? Ainda há demasiado sagrado agarrado a ti.
A tua carta… Ah, estas moscas! Fazes-me sorrir. E fazes-me adorar-te tambĂ©m. É verdade, nĂŁo te dou o devido valor. É verdade. Mas eu nunca disse que nĂŁo me dás o devido valor. Acho que deve haver um erro no teu inglĂŞs.
Ao Longo da Escrita deste Livro
No ano passado, em outubro, talvez a 27, sei que foi a uma terça-feira, a minha mĂŁe incentivou-me a dar um passeio. Há muito que desistiu de me dissuadir dos livros, tanto lĂŞs que treslĂŞs, mas mantĂ©m o hábito de, cuidadosa, depois de bater Ă porta com pouca força, entrar no meu quarto e perguntar: nĂŁo te apetece dar um passeio? Na maioria das vezes, nĂŁo tenho disposição para lhe responder mas, nessa tarde, estava a meio de um capĂtulo altruĂsta e decidi fazer-lhe a vontade. O volante do carro, as minhas mĂŁos a sentirem todas as pedras quase como se estivesse a deslizá-las na estrada. Estacionei no campo, a pouca distância de um grupo de homens e mulheres, botas de borracha, que estavam a apanhar azeitona. Espalhavam uma gritaria animada que nĂŁo se alterou quando saĂ do carro e me aproximei, boa tarde. Uma vantagem do meu nome Ă© que dispenso alcunha. Olha o Livro, boa tarde. O sol estava a pĂ´r-se. Troquei graças, enquanto dois homens recolheram os panões carregados debaixo da Ăşltima oliveira e os levaram Ă s costas.
Não esqueço o que vi a seguir. As mulheres dobraram os panões vazios e dispuseram-nos na terra, em forma de corredor.