Os Anos Perdidos por Vir
O pior nĂŁo era compreender de repente que aquela que eu considerara durante tanto tempo a peça mais importante no quebra-cabeças da minha biografia se desprendera de mim naturalmente, da noite para o dia, com essa facilidade que fere, mas entrever pela primeira vez que quando algo ou alguĂ©m nos dá mesmo cabo da vida isso Ă© definitivo: costumamos pensar nos anos perdidos sempre em relação ao tempo que ficou para trás, mas o verdadeiramente terrĂvel sĂŁo os anos perdidos por vir. Venha o que vier, virá mais pálido e mais fraco, se Ă© que nĂŁo nascerá já morto. Agora via claramente a enorme fragilidade do que atĂ© pouco antes se apresentava aos meus olhos como indestrutĂvel. NĂŁo me doĂa estar sĂł mas a certeza de que, de uma maneira ou de outra, o estaria sempre dali em diante, na medida em que qualquer mulher que no futuro quisesse aproximar-se de mim, por muito nua que viesse, por transparente que fosse o seu olhar, eu nĂŁo conseguiria vĂŞ-la senĂŁo como a desconhecida indiferente e desmemoriada que sem dĂşvida se tornaria, mais tarde ou mais cedo, uma estranha fingindo que tanto fazia, que eu nunca fora nada, caminhando por passeios opostos na minha prĂłpria cidade,
Textos sobre AlĂvio de Carlos Castán
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