Neruda e GarcĂa Lorca em Homenagem a RubĂ©n Dario
Eis o texto do discurso:
Neruda: Senhoras…
Lorca: …e senhores. Existe na lide dos touros uma sorte chamada «toreio dei alimón», em que dois toureiros furtam o corpo ao touro protegidos pela mesma capa.
Neruda: Federico e eu, ligados por um fio eléctrico, vamos emparelhar e responder a esta recepção tão significativa.
Lorca: É costume nestas reuniões que os poetas mostrem a sua palavra viva, prata ou madeira, e saúdem com a sua voz própria os companheiros e amigos.
Neruda: Mas nós vamos colocar entre vós um morto, um comensal viúvo, escuro nas trevas de uma morte maior que as outras mortes, viúvo da vida, da qual foi na sua hora um marido deslumbrante. Vamos esconder-nos sob a sua sombra ardente, vamos repetir-lhe o nome até que a sua grande força salte do esquecimento.
Lorca: Nós, depois de enviarmos o nosso abraço com ternura de pinguim ao delicado poeta Amado Villar, vamos lançar um grande nome sobre a toalha, na certeza de que vão estalar as taças, saltar os garfos, buscando o olhar que todos anseiam, e que um golpe de mar há-de manchar as toalhas. Nós vamos evocar o poeta da América e da Espanha: Rubén…
Textos sobre Amados de Pablo Neruda
3 resultadosA Palavra
…Tudo o que vocĂŞ quiser, sim senhor, mas sĂŁo as palavras que cantam, que sobem e descem… Prosterno-me diante delas… Amo–as, abraço-as, persigo-as, mordo-as, derreto-as… Amo tanto as palavras… As inesperadas… As que glutonamente se amontoam, se espreitam, atĂ© que de sĂşbito caem… Vocábulos amados… Brilham como pedras de cores, saltam como irisados peixes, sĂŁo espuma, fio, metal, orvalho… Persigo algumas palavras… SĂŁo tĂŁo belas que quero pĂ´-las a todas no meu poema… Agarro-as em voo, quando andam a adejar, e caço-as, limpo-as, descasco-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebĂşrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas… E entĂŁo revolvo-as, agito-as, bebo-as, trago-as, trituro-as, alindo-as, liberto-as… Deixo-as como estalactites no meu poema, como pedacinhos de madeira polida, como carvĂŁo, como restos de naufrágio, presentes das ondas… Tudo está na palavra… Uma ideia inteira altera-se porque uma palavra mudou de lugar, ou porque outra se sentou como um reizinho dentro de uma frase que nĂŁo a esperava, nas que lhe obedeceu… Elas tĂŞm sombra, transparĂŞncia, peso, penas, pĂŞlos, tĂŞm de tudo quanto se lhes foi agregando de tanto rolar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto serem raĂzes… SĂŁo antiquĂssimas e recentĂssimas… Vivem no fĂ©retro escondido e na flor que desponta…
Versos Curtos e Compridos
Como poeta actuante, combati o meu próprio ensimesmamento. Por isso, o debate entre o real e o subjectivo se decidiu dentro do meu próprio ser. Sem pretensões de aconselhar ninguém, os resultados podem auxiliar as minhas experiências Vejamo-los de relance.
É natural que a minha poesia esteja exposta tanto Ă opiniĂŁo da crĂtica elevada como submetida Ă paixĂŁo do libelo. Isto faz parte do jogo. Sobre este aspecto da discussĂŁo nĂŁo tenho voz, mas tenho voto. Para a crĂtica essencial, o meu voto sĂŁo os meus livros, a minha poesia inteira. Para o libelo inamistoso, tenho tambĂ©m direito de voto — e este tambĂ©m Ă© constituĂdo pela minha prĂłpria e constante criação.
Se soa a vaidade o que digo, pode ser que tenham razão. No meu caso, trata-se da vaidade do artesão que exerceu um oficio por muitos anos com amor indelével.
Mas há uma coisa com que estou satisfeito: de uma maneira ou outra, fiz respeitar, pelo menos na minha pátria, o ofĂcio de poeta, a profissĂŁo da poesia.Na Ă©poca em que comecei a escrever, o poeta era de dois gĂ©neros. Uns, eram poetas grandes senhores que se faziam respeitar pelo seu dinheiro,