Nenhum Amor Ă© Menos RidĂculo que Outro
Temos, pois, que ao amor corresponde o amável, e que este Ă© inexplicável. Concebe-se a coisa, mas dela nĂŁo se pode dar razĂŁo; assim tambĂ©m Ă© que de maneira incompreensĂvel o amor se apodera da sua presa. Se, de tempos a tempos, os homens caĂssem por terra e morressem subitamente, ou entrassem em convulsões violentas mas inexplicáveis, quem Ă© que nĂŁo sofreria a angĂşstia? No entanto, Ă© assim que o amor intervĂ©m na vida, com a diferença de que ninguĂ©m receia por isso, visto que os amantes encaram tal acontecimento como se esperassem a suprema felicidade. NinguĂ©m receia por isso, toda a gente ri afinal, porque o trágico e o cĂłmico estĂŁo em perpĂ©tua correspondĂŞncia. Conversais hoje com um homem; parece-vos que ele se encontra em estado normal; mas amanhĂŁ ouvi-lo-eis falar uma linguagem metafĂłrica, vĂŞ-lo-eis exprimir-se com gestos muito singulares: Ă© sabido, está apaixonado. Se o amor tivesse por expressĂŁo equivalente «amar qualquer pessoa, a primeira que se encontra», compreender-se-ia a impossibilidade de apresentar melhor definição; mas já que a fĂłrmula Ă© muito diferente, «amar uma sĂł pessoa, a Ăşnica no mundo», parece que tal acto de diferenciação deve provir de motivos profundos.
Sim, deve necessariamente implicar uma dialética de razões,
Textos sobre Amar de Søren Kierkegaard
2 resultadosO Irracional no Amor
Se Ă© ridĂculo beijar uma mulher feia, tambĂ©m Ă© ridĂculo dar um beijo a uma beleza. A presunção de que amando de uma certa maneira se tem o direito de rir do vizinho que tem outra maneira de amar, nĂŁo vale mais do que a arrogância de certo meio social. Tal soberba nĂŁo põe ninguĂ©m ao abrigo do cĂłmico universal, porque todos os homens se encontram na impossibilidade de explicar a praxe a que se submetem, a qual pretende ter um alcance universal, pretende significar que os amantes querem pertencer um ao outro por toda a eternidade, e, o que mais divertido Ă©, pretende tambĂ©m convencĂŞ-los de que hĂŁo-de cumprir fielmente o juramento.
Que um homem rico, muito bem sentado na sua poltrona, acene com a cabeça, ou volte a cara para a direita e para a esquerda, ou bata fortemente com um pé no chão, e que, uma vez perguntado pela razão de tais actos, me responda: «não sei; apeteceu-me de repente; foi um movimento involuntário», compreendo isso muito bem. Mas se ele me respondesse o que costumam responder os amantes, quando lhes pedem que expliquem os seus gestos e as suas atitudes, se me dissesse que em tais actos consistia a sua maior felicidade,