A Melhor Prova duma Real Amizade
A melhor prova duma real amizade está em evitar os compromissos entre aqueles que se estimam. Ainda que devendo muito aos que muito me louvam, eu nĂŁo quero ser-lhes obrigada pela gratidĂŁo. Mas sim grata porque estou com eles, devido a circunstâncias que a todos nĂłs agradam e sĂŁo um laço mais entre nĂłs, sem constituĂrem um dever. Eu pretendo dizer da amizade o que DiĂłgenes dizia do dinheiro: que ele o reavia dos seus amigos, e nĂŁo que o pedia. Pois aquilo que os outros tĂŞm pelo sentimento comum nĂŁo se pede, Ă© patrimĂłnio comum. Neste caso, a amizade.
Textos sobre Amigos de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosCrĂłnica de Natal
Todos os anos, por esta altura, quando me pedem que escreva alguma coisa sobre o Natal, reajo de mau modo. «Outra vez, uma histĂłria de Natal! Que chatice!» — digo. As pessoas ficam muito chocadas quando eu falo assim. Acham que abuso dos direitos que me sĂŁo conferidos. Os meus direitos sĂŁo falar bem, assim como para outros nĂŁo falar mal. Uma vez, em Paris, um chauffeur de táxi, desses que se fazem castiços e dizem palavrões para corresponder Ă fama que tĂŞm, aborreceu-me tanto que lhe respondi com palavrões. Ditos em francĂŞs, a mim nĂŁo me impressionavam, mas ele levou muito a mal e ficou amuado. Como se eu pisasse um terreno que nĂŁo era o meu e cometesse um abuso. Ele era malcriado mas eu – eu era injusta. Cada situação tem a sua justiça prĂłpria, Ă© isto Ă© duma complexidade que o cĂłdigo civil nĂŁo alcança.
Mas dizia eu: «Outra vez o Natal, e toda essa boa vontade de encomenda!» Ponho-me a percorrer as imagens que sĂŁo de praxe, anjos trombeteiros, pastores com capotes de burel e meninos pobres do tempo da Revolução Industrial inglesa. Pobres e explorados, mas, entretanto, nĂŁo excluĂdos do trato social atravĂ©s dos seus conflitos prĂłprios,