Nenhum Amor Ă© Menos RidĂculo que Outro
Temos, pois, que ao amor corresponde o amável, e que este Ă© inexplicável. Concebe-se a coisa, mas dela nĂŁo se pode dar razĂŁo; assim tambĂ©m Ă© que de maneira incompreensĂvel o amor se apodera da sua presa. Se, de tempos a tempos, os homens caĂssem por terra e morressem subitamente, ou entrassem em convulsões violentas mas inexplicáveis, quem Ă© que nĂŁo sofreria a angĂşstia? No entanto, Ă© assim que o amor intervĂ©m na vida, com a diferença de que ninguĂ©m receia por isso, visto que os amantes encaram tal acontecimento como se esperassem a suprema felicidade. NinguĂ©m receia por isso, toda a gente ri afinal, porque o trágico e o cĂłmico estĂŁo em perpĂ©tua correspondĂŞncia. Conversais hoje com um homem; parece-vos que ele se encontra em estado normal; mas amanhĂŁ ouvi-lo-eis falar uma linguagem metafĂłrica, vĂŞ-lo-eis exprimir-se com gestos muito singulares: Ă© sabido, está apaixonado. Se o amor tivesse por expressĂŁo equivalente «amar qualquer pessoa, a primeira que se encontra», compreender-se-ia a impossibilidade de apresentar melhor definição; mas já que a fĂłrmula Ă© muito diferente, «amar uma sĂł pessoa, a Ăşnica no mundo», parece que tal acto de diferenciação deve provir de motivos profundos.
Sim, deve necessariamente implicar uma dialética de razões,
Textos sobre Anos de Søren Kierkegaard
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