Medida e Moderação
A mocidade é romântica, sempre dominada pelo sentimento; a velhice é clássica nos seus gostos, mais amiga da ordem e da restrição que da paixão e da liberdade; a idade madura paira entre os dois extremos, e com a vontade disciplinada, o espírito claro e os desejos coordenados, pacientemente constrói. A regra do conhecimento, disse Descartes, é pensar com clareza; só o que é claramente compreendido é verdade; só assim os desejos se fundem no carácter e na vontade.
A grande qualidade dos anos maduros está na moderação; e o grande defeito, na mediocridade. Nada mais fácil do que fugir ao esforço para cair na rotina, passando da vida vertical para a horizontal. Este perigo ameaça a maior parte dos homens; a sesta durante a tarde é um símbolo e um começo. Mas moderação de nenhum modo implica mediocridade; pode significar força e profundidade de espírito. A acção resoluta combina-se com a moderação no desejar e no falar. O próprio Nietzsche, tão imoderado, dizia que poucos conhecem a força e a significação de duas coisas muito altas – medida e moderação.
Textos sobre Anos de Will Durant
4 resultadosA Acção é o Segredo da Felicidade
Felicidade é a plena expansão dos instintos – e isso confunde-se com mocidade. Para a maioria dos homens, é o único período da vida em que realmente vivemos; depois dos quarenta anos tudo são reminiscências, cinzas do que já foi chama. A tragédia da vida está em que só nos vem a sabedoria quando a mocidade se afasta.
A saúde está na acção e portanto a saúde enfeita a mocidade. Ocupar-se sem parar é o segredo da graça e metade do segredo do contentamento. Não peças aos deuses riquezas – e sim coisas para fazer.
Na Utopia, disse Thoreau, cada criatura construirá a sua própria casa – e o canto brotará espontâneo do coração do homem, como brota do pássaro que constrói o ninho. Mas se não podemos construir a nossa casa, podemos, pelo menos, andar, pular, saltar, correr – velho é quem apenas assiste a isso. Brinquemos é tão bom como Rezemos – e de resultados mais seguros. Por isso a mocidade tem muita razão em preferir os campos desportivos às salas de aula – e em colocar o futebol acima da filosofia.
O Prolongamento da Adolescência
No dia a seguir ao casamento os noivos estão mais velhos cinco anos. Biológicamente, a idade madura começa com o casamento, porque o descuidoso brincar de até ali substitui-se pelo trabalho e pela responsabilidade, a paixão cede diante das limitações da ordem social – a poesia passa a prosa. Esta mudança varia com os costumes e o clima; o casamento vem mui tardiamente nas cidades modernas, facto que prolonga a adolescência; mas entre os povos do Sul e do Oriente realiza-se em idade bem verde. Os rapazes orientais, diz Stanley Hall, começam a exercer as funções de marido aos treze anos, e aos trinta, já gastos, recorrem a afrodisíacos… Aos trinta anos as mulheres dos climas quentes já estão velhas. Está verificado que o dilatar da adolescência prolonga a vida. Se pudéssemos retardar a nossa maturidade sexual de modo a coincidir com a nossa maturidade económica, prolongando assim a adolescência e a fase educativa, ergueríamos a civilização a nível jamais alcançado.
A Moralidade dos Homens Exaustos
Parte do conservantismo da idade madura decorre da inteligência, que afinal percebe a complexidade das instituições e as imperfeições do desejo; e parte vem do enfraquecimento das energias, o que explica a imaculada moralidade dos homens exaustos. A princípio com incredulidade, depois com desepero, vamos percebendo que o nosso reservatório de energia já não se enche com a facilidade antiga; ou, como disse Schopenhauer, começamos a consumir o capital em vez da renda do capital. Essa descoberta anuvia por alguns anos o homem maduro e indu-lo a deblaterar contra a brevidade da vida e a impossibilidade de realização de grandes obras. Está ele já no alto da colina, de onde vê, lá no fundo, o fim inevitável – a morte. Até aquele momento não admitia a morte, só pensando nela como um tema académico, de desinteresse para os cofres. Subitamente tudo muda e começa a vê-la de perto, e por mais que se esforce para não descer a colina, há que descê-la. Os seus olhos voltam-se para o passado, para os dias em que tudo era ascensão descuidosa; e compraz-se na companhia dos moços e crianças porque deles haure, passageira e incompletamente embora, um pouco do divino esquecimento da morte.