Saber Terminar uma Amizade Indesejável
Sucede, tambĂ©m, como por calamidade, que algumas vezes Ă© necessário romper uma amizade: porque passo agora das amizades dos sábios Ă s ligações vulgares. Muitas vezes quando os vĂcios se revelam num homem, os seus amigos sĂŁo as suas vĂtimas como todos os outros: contudo Ă© sobre eles que recai a vergonha. É preciso, pois, desligar-se de tais amizades —, afrouxando o laço pouco a pouco e, como ouvi dizer a CatĂŁo, Ă© necessário descoser antes que despedaçar, a menos que se nĂŁo haja produzido um escândalo de tal modo intolerável, que nĂŁo fosse nem justo nem honesto, nem mesmo possĂvel, deixar de romper imediatamente.
Mas se o carácter e os gostos vierem a mudar, o que acontece muitas vezes; se algum dissentimento polĂtico separar dois amigos (nĂŁo falo mais, repito-o, das amizades dos sábios, mas das afeições vulgares), Ă© preciso tomar cuidado em, desfazendo a amizade, nĂŁo a substituir logo pelo Ăłdio. Nada mais vergonhoso, com efeito, que estar em guerra com aquele que se amou por muito tempo.
(…) Apliquemo-nos, pois, antes de tudo, em afastar toda a causa de ruptura: se contudo, acontecer alguma, que a amizade pareça antes extinta do que estrangulada. Temamos sobretudo que ela nĂŁo se transforme em Ăłdio violento,
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