O Amor entre o Trigo
Cheguei ao acampamento dos HernĂĄndez antes do meio-dia, fresco e alegre. A minha cavalgada solitĂĄria pelos caminhos desertos, o repouso do sono, tudo isso refulgia na minha taciturna juventude.
A debulha do trigo, da aveia, da cevada, fazia-se ainda com Ă©guas. Nada no mundo Ă© mais alegre que ver rodopiar as Ă©guas, trotando Ă volta do calcadouro do cereal, sob o grito espicaçante dos cavaleiros. Brilhava um sol esplĂȘndido e o ar era um diamante silvestre que fazia brilhar as montanhas. A debulha Ă© uma festa de ouro. A palha amarela acumula-se em montanhas douradas. Tudo Ă© actividade e bulĂcio, sacos que correm e se enchem, mulheres que cozinham, cavalos que tomam o freio nos dentes, cĂŁes que ladram, crianças que a cada momento Ă© preciso livrar, como se fossem frutos da palha, das patas dos cavalos.Oe HernĂĄndez eram uma tribo singular. Os homens, despenteados e por barbear, em mangas de camisa e com revĂłlver Ă cinta, andavam quase sempre besuntados de Ăłleo, de poeiras, de lama, ou molhados atĂ© aos ossos pela chuva. Pais, filhos, sobrinhos, primos, eram todos da mesma catadura. Estavam horas inteiras ocupados debaixo de um motor, em cima de um tecto,
Textos sobre AusĂȘncia de Pablo Neruda
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