Com os Costumes andam os Aforismos
Com os costumes andam os aforismos. Assim, eis que eles tomam um carĂĄcter mais criticador e vibrante, isto na linguagem de Karl Kraus, homem sagaz e ventrĂloquo de certas causas que a sociedade nĂŁo confia Ă voz pĂșblica.
Ele diz, por exemplo: «As mulheres, no Oriente, tĂȘm maior liberdade. Podem ser amadas». Ou entĂŁo: «A vida de famĂlia Ă© um ataque Ă vida privada». Ou ainda: «A democracia divide os homens em trabalhadores e preguiçosos. NĂŁo estĂĄ destinada para aqueles que nĂŁo tĂȘm tempo para trabalhar». Tudo isto, como axioma, lembra Bernard Shaw, esse inglĂȘs azedo e endiabrado cujo Manual do RevolucionĂĄrio fez o encanto da nossa adolescĂȘncia.
Todavia, o aforimo do homem de letras, se impressiona, quase nunca comove ninguĂ©m. O autĂȘntico aforismo nĂŁo Ă© uma arte – Ă© uma espĂ©cie de pastorĂcia cultural. NĂŁo estĂĄ destinado a divertir nem a chocar as pessoas, mas, acima de tudo, propĂ”e-se transmitir uma orientação. Ă uma lição, e nĂŁo o pretexto para uma pirueta.
Os aforismos e paradoxos de Karl Kraus tĂȘm esse sabor irreverente que se diferencia da sabedoria, porque hĂĄ algo de precipitado na sua confissĂŁo. Precisam de ser situados num estado de espĂrito, para serem aceites e compreendidos;
Textos sobre Azedos de Agustina Bessa-LuĂs
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