O Pressuposto IndispensĂĄvel para se Ser um Grande-Escritor
O pressuposto indispensĂĄvel para se ser um grande-escritor Ă©, entĂŁo, o de escrever livros e peças de teatro que sirvam para todos os nĂveis, do mais alto ao mais baixo. Antes de produzir algum bom efeito, Ă© preciso primeiro produzir efeito: este princĂpio Ă© a base de toda a existĂȘncia como grande-escritor. Ă um princĂpio miraculoso, eficaz contra todas as tentaçÔes da solidĂŁo, por excelĂȘncia o princĂpio goethiano do sucesso: se nos movermos apenas num mundo que nos Ă© propĂcio, tudo o resto virĂĄ por si. Pois quando um escritor começa a ter sucesso dĂĄ-se logo uma transformação significativa na sua vida. O seu editor pĂĄra de se lamentar e de dizer que um comerciante que se torna editor se parece com um idealista trĂĄgico, porque faria muito mais dinheiro negociando com tecidos ou papel virgem. A crĂtica descobre nele um objecto digno da sua actividade, porque os crĂticos muitas vezes atĂ© nem sĂŁo mĂĄs pessoas, mas, dadas as circunstĂąncias epocais pouco propĂcias, ex-poetas que precisam de um apoio do coração para poderem pĂŽr cĂĄ fora os seus sentimentos;sĂŁo poetas do amor ou da guerra, consoante o capital interior que tĂȘm de aplicar com proveito, e por isso Ă© perfeitamente compreensĂvel que escolham o livro de um grande-escritor e nĂŁo o de um comum escritor.
Textos sobre BenevolĂȘncia de Robert Musil
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