Daqui a Vinte e Cinco Anos
Perguntaram-me uma vez se eu saberia calcular o Brasil daqui a vinte e cinco anos. Nem daqui a vinte e cinco minutos, quanto mais vinte e cinco anos. Mas a impressĂŁo-desejo Ă© a de que num futuro nĂŁo muito remoto talvez compreendamos que os movimentos caĂłticos atuais já eram os primeiros passos afinando-se e orquestrando-se para uma situação econĂłmica mais digna de um homem, de uma mulher, de uma criança. E isso porque o povo já tem dado mostras de ter maior maturidade polĂtica do que a grande maioria dos polĂticos, e Ă© quem um dia terminará liderando os lĂderes. Daqui a vinte e cinco anos o povo terá falado muito mais.
Mas se nĂŁo sei prever, posso pelo menos desejar. Posso intensamente desejar que o problema mais urgente se resolva: o da fome. MuitĂssimo mais depressa, porĂ©m, do que em vinte e cinco anos, porque nĂŁo há mais tempo de esperar: milhares de homens, mulheres e crianças sĂŁo verdadeiros moribundos ambulantes que tecnicamente deviam estar internados em hospitais para subnutridos. Tal Ă© a misĂ©ria, que se justificaria ser decretado estado de prontidĂŁo, como diante de calamidade pĂşblica. SĂł que Ă© pior: a fome Ă© a nossa endemia, já está fazendo parte orgânica do corpo e da alma.
Textos sobre Câncer de Clarice Lispector
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