A Alma Popular Ă© Totalmente Dominada por Elementos Afectivos e MĂsticos
A acção cada vez mais considerável das multidões na vida polĂtica imprime especial importância ao estudo das opiniões populares. Interpretadas por uma legiĂŁo de advogados e professores, que as transpõem e lhe dissimulam a mobilidade, a incoerĂŞncia e o simplismo, elas permanecem pouco conhecidas. Hoje, o povo soberano Ă© tĂŁo adulado quanto foram, outrora, os piores dĂ©spotas. As suas paixões baixas, os seus ruidosos apetites, as suas ininteligentes aspirações suscitam admiradores. Para os polĂticos, servidores da plebe, os factos nĂŁo existem, as realidades nĂŁo tĂŞm nenhum valor, a natureza deve-se submeter a todas as fantasias do nĂşmero.
A alma popular (…) tem, como principal caracterĂstica, a circunstância de ser inteiramente dominada por elementos afectivos e mĂsticos. NĂŁo podendo nenhum argumento racional refrear nela as impulsões criadas por esses elementos, ela obedece-lhes imediatamente.
O lado mĂstico da alma das multidões Ă©, muitas vezes, mais desenvolvido ainda do que o seu lado afectivo. DaĂ resulta uma intensa necessidade de adorar alguma coisa: deus, feitiço, personagem ou doutrina.
(…) O ponto mais essencial, talvez, da psicologia das multidões Ă© a nula influĂŞncia que a razĂŁo exerceu nelas. As ideias susceptĂveis de influenciar as multidões nĂŁo sĂŁo ideias racionais, porĂ©m sentimentos expressos sob forma de ideias.
Textos sobre CaracterĂsticos de Gustave Le Bon
3 resultadosOs Elementos Fixadores da Personalidade
Os resĂduos ancestrais formam a camada mais profunda e mais estável do carácter dos indivĂduos e dos povos. É pelo seu “eu” ancestral que um inglĂŞs, um francĂŞs, um chinĂŞs, diferem tĂŁo profundamente.
Mas a esses remotos atavismos sobrepõem-se elementos suscitados pelo meio social (casta, classe, profissão, etc.), pela educação e ainda por muitas outras influências. Eles imprimem à nossa personalidade uma orientação assaz constante. Será o “eu”, um pouco artificial, assim formado, que exteriorizaremos cada dia.
Entre todos os elementos formadores da personalidade, o mais activo, depois da raça, é o que determina o agrupamento social ao qual pertencemos. Fundidas no mesmo molde pelas idéias, as opiniões e as condutas semelhantes que lhes são impostas, as individualidades de um grupo: militares, magistrados, padres, operários, marinheiros, etc., apresentam numerosos carácteres idênticos.
As suas opiniões e os seus juĂzos sĂŁo, em geral, vizinhos, porquanto sendo cada grupo social muito nivelador, a originalidade nĂŁo Ă© tolerada nele. Aquele que se quer diferenciar do seu grupo tem-no inteiramente por inimigo.
Essa tirania dos grupos sociais, na qual insistiremos, não é inútil. Se os homens não tivessem por guia as opiniões e a maneira de proceder daqueles que os cercam,
Crença e Intolerância
A necessidade de fĂ© nĂŁo foi absolutamente provocada pelas religiões; foi ela, ao contrário, que as suscitou. As divindades nĂŁo fazem mais do que fornecer um objecto ao nosso desejo de crer. Desde que ele se desvia das divindades, o homem entrega-se a uma fĂ© qualquer, quimeras polĂticas, sortilĂ©gios ou feitiços. (…) Uma das mais constantes caracterĂsticas gerais das crenças Ă© a sua intolerância. Ela Ă© tanto mais intransigente quanto mais forte Ă© a crença. Os homens dominados por uma certeza nĂŁo podem tolerar aqueles que nĂŁo a aceitam.