O Fim Justifica o Meio
Os meios virtuosos e bonacheirões não levam a nada. É preciso utilizar alavancas mais enérgicas e mais sábios enredos. Antes de te tornares célebre pela virtude e de atingires o teu objectivo, haverá cem que terão tempo de fazer piruetas por cima das tuas costas e de chegar ao fim da corrida antes de ti, de tal modo que deixará de haver lugar para as tuas ideias estreitas. É preciso saber abarcar com mais amplitude o horizonte do tempo presente.
Nunca ouviste falar, por exemplo, da glória imensa que as vitórias alcançam? E, no entanto, as vitórias não surgem sozinhas. É preciso que o sangue corra, muito sangue, para serem geradas e depostas aos pés dos conquistadores. Sem os cadáveres e os membros esparsos que vês na planície onde se desenrolou sabiamente a carnificina, não haverá guerra, e sem guerra não haverá vitória. Estão a ver que, quando alguém se quer tornar célebre, tem que mergulhar graciosamente em rios de sangue, alimentados com carne para canhão. O fim justifica o meio.
Textos sobre Carne de Conde de Lautréamont
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O Amor pela Humanidade Começa
As paixões diminuem com a idade. O amor, que não deve ser classificado entre as paixões, diminui da mesma maneira. O que perde por um lado recupera por outro. Já não é severo para o objecto dos seus desejos, fazendo justiça a si mesmo: a expansão é aceite. Os sentidos já não possuem o seu aguilhão para excitar os sexos da carne. O amor pela humanidade começa. Nesses dias em que o homem sente que se torna um altar ornado pelas suas virtudes, feitas as contas de cada dor que se revelou, a alma, num recôndito do coração onde tudo parece ter origem, sente qualquer coisa que já não palpita. Referi-me à recordação.