CrĂłnica de Natal
Todos os anos, por esta altura, quando me pedem que escreva alguma coisa sobre o Natal, reajo de mau modo. «Outra vez, uma história de Natal! Que chatice!» — digo. As pessoas ficam muito chocadas quando eu falo assim. Acham que abuso dos direitos que me são conferidos. Os meus direitos são falar bem, assim como para outros não falar mal. Uma vez, em Paris, um chauffeur de táxi, desses que se fazem castiços e dizem palavrões para corresponder à fama que têm, aborreceu-me tanto que lhe respondi com palavrões. Ditos em francês, a mim não me impressionavam, mas ele levou muito a mal e ficou amuado. Como se eu pisasse um terreno que não era o meu e cometesse um abuso. Ele era malcriado mas eu – eu era injusta. Cada situação tem a sua justiça própria, é isto é duma complexidade que o código civil não alcança.
Mas dizia eu: «Outra vez o Natal, e toda essa boa vontade de encomenda!» Ponho-me a percorrer as imagens que sĂŁo de praxe, anjos trombeteiros, pastores com capotes de burel e meninos pobres do tempo da Revolução Industrial inglesa. Pobres e explorados, mas, entretanto, nĂŁo excluĂdos do trato social atravĂ©s dos seus conflitos prĂłprios,
Textos sobre CidadĂŁos de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosPara o Jornalista, Tudo o que é Provável é Verdade
«Para o jornalista, tudo o que Ă© provável Ă© verdade». Trata-se dum axioma estupendo, como tudo o que Balzac inventa. Reflectindo nele, nĂłs percebemos quantas falsidades se explicam e quantas arranhadelas na sensibilidade se resumem a fanfarronices e nĂŁo a conhecimento dos factos. Em geral, o pequeno jornalista Ă© um profeta da Imprensa no que toca a banalidades, e um imprudente no que se refere a coisas sĂ©rias. Quando Balzac refere que a crĂtica sĂł serve para fazer viver o crĂtico, isto estende-se a muitas outras tendĂŞncias do jornalista: o folhetinista, que Ă© o que Camilo fazia nas gazetas do Porto (…). Eu prĂłpria nĂŁo estou isenta duma soma de articulismos, de recursos Ă blague, de graças adaptáveis, de frequentação do lado mau da imaginação, de ridĂculos, de fastidiosos conselhos, de discursos convencionais, de condenações fáceis, de birras imbecis, de poesia de barbeiro, de elegâncias chatas, de canibalismo vulgar, de panfletismo «bom cidadĂŁo». Quando nĂŁo sou nada disso, sou assunto para jornais, mas nĂŁo sou jornalista.