A Inutilidade de Guerras e Revoluções
As guerras e as revoluções – há sempre uma ou outra em curso – chegam, na leitura dos seus efeitos, a causar nĂŁo horror mas tĂ©dio. NĂŁo Ă© a crueldade de todos aqueles mortos e feridos, o sacrifĂcio de todos os que morrem batendo-se, ou sĂŁo mortos sem que se batam, que pesa duramente na alma: Ă© a estupidez que sacrifica vidas e haveres a qualquer coisa inevitavelmente inĂştil.
Todos os ideais e todas as ambições sĂŁo um desvairo de comadres homens. NĂŁo há impĂ©rio que valha que por ele se parta uma boneca de criança. NĂŁo há ideal que mereça o sacrifĂcio de um comboio de lata. Que impĂ©rio Ă© Ăştil ou que ideal profĂcuo?
Tudo Ă© humanidade, e a humanidade Ă© sempre a mesma – variável mas inaperfeiçoável, oscilante mas improgressiva. Perante o curso inimplorável das coisas, a vida que tivemos sem saber como e perderemos sem saber quando, o jogo de mil xadrezes que Ă© a vida em comum e luta, o tĂ©dio de contemplar sem utilidade o que se nĂŁo realiza nunca – que pode fazer o sábio senĂŁo pedir o repouso, o nĂŁo ter que pensar em viver, pois basta ter que viver,
Textos sobre Comboio de Fernando Pessoa
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Os Realistas e os Românticos
Os realistas fazem as pequenas coisas e os românticos as grandes. Um homem tem de ser realista para poder gerir uma fábrica de tachas. Tem de ser romântico para gerir o mundo.
É necessário um realista para encontrar a realidade; o romântico é necessário para criá-la. Napoleão é apenas um poeta, Cromwell um entusiasta, César um retórico.
A distância entre Henry Ford e John Milton é sempre maior no comboio de regresso.
A realização é a morte, porque é o fim. Os romãnticos são sobrevivências, encarnações perpétuas de si próprios.