O Feio Tem Mais Encanto Que o Belo
Por vezes existe nas pessoas ou nas coisas um charme invisĂvel, uma graça natural que nĂŁo pĂ´de ser definida, a que somos obrigados a chamar o «nĂŁo sei o quê». Parece-me que Ă© um efeito que deriva principalmente da surpresa. Sensibiliza-nos o facto de uma pessoa nos agradar mais do que deveria inicialmente e somos agradavelmente surpreendidos porque superou os defeitos que os nossos olhos nos mostravam e que o coração já nĂŁo acredita. Esta Ă© a razĂŁo porque as mulheres feias possuem muitas vezes encantos que raramente as mulheres belas possuem, porque uma bela pessoa geralmente faz o contrário daquilo que esperávamos; começa a parecer-nos menos estimável. Depois de nos ter surpreendido positivamente, surpreende-nos negativamente; mas a boa impressĂŁo Ă© antiga e a do mal, recente: assim, as pessoas belas raramente despertam grandes paixões, quase sempre restringidas Ă s que possuem encantos, ou seja, dons que nĂŁo esperarĂamos de modo nenhum e que nĂŁo tinhamos motivos para esperar.
Os encantos encontram-se muito mais no espĂrito do que no rosto, porque um belo rosto mostra-se logo e nĂŁo esconde quase nada, mas o espĂrito apenas se mostra gradualmente, quando quer e do modo que quer; pode esconder-se para surgir de novo e proporcionar essa espĂ©cie de surpresa que constitui os encantos.
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