As Nuvens
Hei-de aprender um ofĂcio de que goste, há tĂŁo poucos, talvez carpinteiro, ou pedreiro. Construiria uma casa neste chĂŁo de areia com pedras hĂşmidas, lisas ou cheias de limos, frias, sĂŁo tĂŁo bonitas, com seus veios cruzando-se, ou afastando-se de costas uns para os outros. Havia de meter-me por esses miĂşdos caminhos de chibas para ver, ao fim da tarde, chegar os saltimbancos em toda a sua glĂłria, que me apontam as nuvens lentas, muito brancas, afastando-se.
Textos sobre Costas de Eugénio de Andrade
2 resultadosFábula
Estavam ali diante dos meus olhos: era terrĂvel e ao mesmo tempo fascinante.
Ao princĂpio pensei que ele a estava a matar, logo a seguir percebi que nĂŁo, que talvez ambos estivessem a morrer, sĂł depois qualquer apelo distante se fez carne em mim. EntĂŁo todo eu fiquei amarrado aos seus gestos, Ă quela respiração fatigada e difĂcil, Ă quele balbucio que lhes saĂa ralo da boca.
Os seio de Maria caĂam nus da blusa. Uma das mĂŁos do carpinteiro perdia-se nos seus cabelos emaranhados, a outra parecia ter-se enterrado na areia. O resto era aquele corpo todo dè homem: rĂgido e fremente, ao mesmo tempo, Ă força de concentrar todo o Ămpeto nas nádegas, arco de onde a flecha partia, para se cravar exasperada nas entranhas da rapariga. Parecia um cavalo ofegante — os olhos cerrados, o suor escorrendo da raiz dos cabelos, espa-lhando-se pelas costas, pelos flancos, pelas pernas, quase todas descobertas. Um cavalo cego mordendo o cĂ©u branco de agosto. Mas a terra chamou-o, e um relincho prolongado encheu o leito do ribeiro, morreu no alto dos amieiros. Por fim a paz desceu ao mundo.
Maria olhava o carpinteiro com olhos rasos de espanto, como quem tivesse perdido tudo naquele instante.