Uma Completa Fome por Ti
Anais,
NĂŁo esperes que continue sĂŁo. NĂŁo vamos ser sensatos. Foi um casamento, em Louveciennes — nĂŁo podes negá-lo. Voltei com pedaços de ti pegados a mim. Estou a andar, a nadar num oceano de sangue, o teu sangue andaluz, destilado e venenoso. Tudo o que faço e digo e penso tem a ver com o casamento. Vi-te como a senhora do teu lar, uma moura de cara pesada, uma negra com um corpo branco, olhos por toda a tua pele, mulher, mulher, mulher. NĂŁo consigo ver como conseguirei viver longe de ti — estas interrupções sĂŁo uma morte. Como te pareceu quando o Hugo voltou? Eu continuava aĂ? NĂŁo consigo imaginar-te a moveres-te com ele como fizeste comigo. Pernas fechadas. Fragilidade. Doce, traiçoeira aquiescĂŞncia. Docilidade de pássaro. Tornaste-te uma mulher comigo. Isso quase me aterrorizou. NĂŁo tens sĂł trinta anos de idade… Tens mil anos de idade.
Aqui estou de volta e ainda fervilhando de paixĂŁo, como vinho a fermentar. NĂŁo uma paixĂŁo apenas da carne, mas uma completa fome por ti, uma fome devoradora. Leio no jornal acerca de suicĂdios e homicĂdios e compreendo-o perfeitamente. Sinto-me assassino, suicida. Sinto talvez ser uma desgraça nada fazer,
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