Para um Grande EspĂrito Nada há que Seja Grande
Evitai tudo quanto agrade ao vulgo, tudo quanto o acaso proporciona; diante de qualquer bem fortuito parai com desconfiança e receio: tambĂ©m a caça ou o peixe se deixa enganar por esperanças falacciosas. Julgais que se trata de benesses da sorte? SĂŁo armadilhas! Quem quer que deseje passar a vida em segurança evite quanto possa estes benefĂcios escorregadios nos quais, pobres de nĂłs, atĂ© nisto nos enganamos: ao julgar possuĂ-los, deixamo-nos apanhar! Esta corrida leva-nos para o abismo; a Ăşnica saĂda para uma vida «elevada», Ă© a queda!
E mais: nem sequer poderemos parar quando a fortuna começa a desviar-nos da rota certa, nem ao menos ir a pique, cair instantaneamente: não, a fortuna não nos faz tropeçar, derruba-nos, esmaga-nos.
Prossegui, pois, um estilo de vida correcto e saudável, comprazendo o corpo apenas na medida do indispensável Ă boa saĂşde. Mas há que tratá-lo com dureza, para ele obedecer sem custo ao espĂrito: limite-se a comida a matar a fome, a bebida a extinguir a sede, a roupa a afastar o frio, a casa a servir de abrigo contra as intempĂ©ries. Que a habitação seja feita de ramos ou de pedras coloridas importadas de longe, Ă© pormenor sem interesse: ficai sabendo que para abrigar um homem tĂŁo bom Ă© o colmo como o ouro!
Textos sobre Decoração de Séneca
2 resultadosAs Canseiras Destinam-se a Satisfazer os Luxos
Nos dias de hoje, quem consideras tu como sábio? O tĂ©cnico que sabe montar repuxos de água perfumada atravĂ©s de canalizações invisĂveis, o que Ă© capaz de encher ou esvaziar num instante os canais artificiais, o que sabe dar diversas disposições aos caixotões mĂłveis do tecto de modo a que o salĂŁo de banquetes vá mudando de decoração Ă medida que vĂŁo surgindo os vários pratos? Ou antes aquele que demonstra, a si mesmo e aos outros, que a natureza nos nĂŁo impõe nada que seja duro e difĂcil, que para termos uma casa nĂŁo carecemos de marmoristas ou de marceneiros, que para nos vestirmos nĂŁo dependemos do comĂ©rcio da seda, em suma, que para dispormos do essencial Ă vida quotidiana nos basta aquilo que a terra nos apresenta Ă superfĂcie? Se a humanidade se dispusesse a seguir os conselhos de um tal homem imediatamente perceberia que tĂŁo inĂştil Ă© o cozinheiro como o soldado!
Os antigos, esses homens que satisfaziam sem quaisquer excessos as suas necessidades fĂsicas, eram de facto sábios, ou pelo menos muito prĂłximo de o serem. Para se obter o indispensável nĂŁo Ă© preciso muito esforço; as canseiras destinam-se a satisfazer os luxos. Tu podes dispensar todos os tĂ©cnicos: basta que sigas a natureza!