Conquistar a Honra
Conquistar a honra não é senão revelar as virtudes e os valores do homem, sem desvantagens; porque alguns procuram e solicitam a honra e a reputação, mas nas suas acções deixam muito a desejar; tais homens são daqueles a respeito dos quais se fala muito, mas que no fundo ninguém admira; outros, pelo contrário, escurecem as suas virtudes na aparência, para que sejam sobrevalorizadas na opinião. Aquele que leva a cabo uma coisa que nunca tinha sido tentada antes, ou que tinha sido abandonada depois da tentativa, ou realizada em melhores circunstâncias, ganhará com isso maior honra do que se tiver efectuado uma coisa de maior dificuldade, ou de maior mérito, em que tivesse já havido um precursor. Se um homem regula as suas acções de maneira a satisfazer em algumas todos os partidos ou agrupamentos, maior conceito de elogios haverá de obter.
Mau gerente da sua honra será aquele que empreenda uma acção cujo insucesso lhe possa causar desgraça maior do que a glória que lhe adviria do sucesso. A honra que é recebida e que vai quebrar-se sobre outrem é a que tem mais brilhantes reflexões; como os diamantes talhados com várias faces. Por isso deve o homem esforçar-se por ultrapassar os seus émulos em questão de honra,
Textos sobre Diamantes de Francis Bacon
2 resultadosA Mentira é mais Interessante que a Verdade
«O que é a verdade»? Perguntava Pilatos gracejando, talvez que não esperasse pela resposta. Há quem se delicie com a inconstância, e considere servidão o fixar-se numa crença; há quem se afeiçoe ao livre-arbítrio tanto no pensar como no agir. E se bem que as seitas de filósofos desta espécie hajam desaparecido, sobrevivem alguns representantes da mesma família, apesar de nas veias não lhes correr tanto sangue como nas dos antigos. Não é somente a dificuldade e a canseira que o homem experimenta ao perseguir a verdade, nem sequer o facto de, uma vez encontrada, se impor aos pensamentos humanos, o que leva a conceder às mentiras os maiores favores; é sim, um natural mas corrompido amor da própria mentira. Uma das últimas escolas dos Gregos examinou esta questão, mas deteve-se a pensar no que leva o homem a armar as mentiras, quando não o faz por prazer, como os poetas, ou por utilidade, como os mercadores, mas pelo próprio mentir.
Não sei como dizê-lo, mas a verdade é uma luz nua e crua que não mostra as máscaras, as cegadas e os cortejos do mundo com metade da altivez e da graciosidade com que aparecem iluminados pelos candelabros.