Idiotia e Felicidade
Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor? Pois explico já. A idiotia e a felicidade sĂŁo ideias muito vagas, difĂceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia Ă© susceptĂvel de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espĂ©cie de segurança em si prĂłprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito prĂłxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, nĂŁo vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, nĂŁo penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mĂŁos postas, repetia aplicadamente. Acabei por nĂŁo me casar com ela.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se,
Textos sobre DifĂcil de Alexandre O'Neill
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