Os Comunistas
… Passaram bastantes anos desde que ingressei no Partido… Estou contente… Os comunistas constituem uma boa famĂlia… TĂŞm a pele curtida e o coração valoroso… Por todo o lado recebem pauladas… Pauladas exclusivamente para eles… Vivam os espiritistas, os monárquicos, os aberrantes, os criminosos de vários graus… Viva a filosofia com fumo mas sem esqueletos… Viva o cĂŁo que ladra e que morde, vivam os astrĂłlogos libidinosos, viva a pornografia, viva o cinismo, viva o camarĂŁo, viva toda a gente menos os comunistas… Vivam os cintos de castidade, vivam os conservadores que nĂŁo lavam os pĂ©s ideolĂłgicos há quinhentos anos… Vivam os piolhos das populações miseráveis, viva a força comum gratuita, viva o anarco-capitalismo, viva Rilke, viva AndrĂ© Gide com o seu coribantismo, viva qualquer misticismo… Tudo está bem… Todos sĂŁo herĂłicos… Todos os jornais devem publicar-se… Todos devem publicar-se, menos os comunistas… Todos os polĂticos devem entrar em SĂŁo Domingos sem algemas… Todos devem festejar a morte do sanguinário Trujillo, menos os que mais duramente o combateram… Viva o Carnaval, os derradeiros dias do Carnaval… Há disfarces para todos… Disfarces de idealistas cristĂŁos, disfarces de extrema-esquerda, disfarces de damas beneficentes e de matronas caritativas… Mas, cuidado, nĂŁo deixem entrar os comunistas…
Textos sobre Direito de Pablo Neruda
2 resultadosVersos Curtos e Compridos
Como poeta actuante, combati o meu próprio ensimesmamento. Por isso, o debate entre o real e o subjectivo se decidiu dentro do meu próprio ser. Sem pretensões de aconselhar ninguém, os resultados podem auxiliar as minhas experiências Vejamo-los de relance.
É natural que a minha poesia esteja exposta tanto Ă opiniĂŁo da crĂtica elevada como submetida Ă paixĂŁo do libelo. Isto faz parte do jogo. Sobre este aspecto da discussĂŁo nĂŁo tenho voz, mas tenho voto. Para a crĂtica essencial, o meu voto sĂŁo os meus livros, a minha poesia inteira. Para o libelo inamistoso, tenho tambĂ©m direito de voto — e este tambĂ©m Ă© constituĂdo pela minha prĂłpria e constante criação.
Se soa a vaidade o que digo, pode ser que tenham razão. No meu caso, trata-se da vaidade do artesão que exerceu um oficio por muitos anos com amor indelével.
Mas há uma coisa com que estou satisfeito: de uma maneira ou outra, fiz respeitar, pelo menos na minha pátria, o ofĂcio de poeta, a profissĂŁo da poesia.Na Ă©poca em que comecei a escrever, o poeta era de dois gĂ©neros. Uns, eram poetas grandes senhores que se faziam respeitar pelo seu dinheiro,