A Construção da Personalidade Criadora
A harmonia do comportamento social requer, todos o sabemos, tanto o isolamento como o convĂvio. Excessiva comunicação, debates exagerados de assuntos que requerem meditação e peso moral, avesso muitas vezes Ă cordialidade natural das afinidades electivas, nĂŁo enriquecem o patrimĂłnio de uma sociedade. Antes embotam e alteram o terreno imparcial da sabedoria.
A solidĂŁo favorece a intensidade do pensamento; por outro lado, torna de certo modo celerado o homem que lida com a força material, com a tĂ©cnica, com os outros homens. O impulso Ă© a força que actualiza estas duas atitudes. Os ricos de impulso que se prontificam a uma reacção agressiva ou escandalosa, esses sĂŁo associais especialmente difĂceis. Todo o revolucionário Ă© associal, se o impulso for nele um desvio da vida instintiva, e nĂŁo uma atitude de homem capaz de obedecer e mandar a si prĂłprio.
«A felicidade máxima do filho da terra há-de ser a personalidade» – disse Goethe. Personalidade criadora, obtida Ă custa do ajustamento das nossas prĂłprias leis interiores, que nĂŁo serĂŁo mais, no futuro, forças repelidas ou encobertas, mas sim valiosas contribuições para o tempo do homem. Quando tudo for analisado e conhecido, sĂł o justo há-de prevalecer.
Textos sobre Dois de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosOs que Morrem por Amor
Os que morrem por amor continuam a pertencer Ă lenda. Os seus funerais arrastam uma multidĂŁo piedosa, tal como decerto aconteceu na cidade de Verona, há seiscentos anos. Ainda que nesse tempo os costumes fossem bastante fáceis, a prática erĂłtica da juventude era muito mais modesta. Reflectindo melhor, Ă© de crer que a prĂłpria licença produzisse um tipo de pessoas orgulhosas da sua intimidade afectiva; o que, se nĂŁo Ă© virtude, algo se parece. Este orgulho da prĂłpria intimidade conduz a uma atitude hostil em relação a tudo o que pode burocratizar os sentimentos. Há um sociĂłlogo inclinado a crer que existe muito de romantismo burocrático no amor moderno. É possĂvel. E quando aparecem os contestatários dessa espĂ©cie de burocracia, como sĂŁo os Romeus e Julietas do Candal, a cidade fica-lhes agradecida. No campo dos afectos trata-se da luta obstinada que resulta do choque entre a vida privada e o regime governativo; entre um corpo animado de impulsos e uma autoridade explicada por leis. AtravĂ©s de inquĂ©ritos feitos nos meios juvenis para inquirir das transformações que se efectuam no âmbito das relações afectivas, deparam-se declarações bastante confusas. Elas pairam entre uma sinceridade elementar que descura a experiĂŞncia e teorias perfeitamente viciadas nos lugares-comuns do sĂ©culo.