Textos sobre Duros de Miguel Torga

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Textos de duros de Miguel Torga. Leia este e outros textos de Miguel Torga em Poetris.

Eu Acredito na História

Eu acredito na História. Por isso, espero que ela escarre um dia sobre esta época, agoniada de nojo. Será tarde, evidentemente, para que os tartufos de agora sintam o cilindro da justiça a brunir-lhes a grandeza, e para que os humilhados tenham ainda em vida a desforra que merecem. Mas o homem dura pouco demais para poder assistir ao espectáculo inteiro da comédia de que também é comparsa. Tem de nomear representantes até para comerem os frutos das próprias árvores que planta. De maneira que eu delego na História um vómito azedo sobre isto.

Um Autêntico Sonho de Amor

Orgulho, vaidade, despeito, rancor, tudo passa, se verdadeiramente o homem tem dentro de si um autêntico sonho de amor. Essas pequenas misérias são fatais apenas no começo, na puberdade, quando se olha uma janela e se desflora quem está lá dentro. Depois, não. Depois, sofre-se é pelo homem, é pela estupidez colectiva, é por não se poder continuar alegremente num mundo povoado, e se desejar um deserto de asceta. O ascetismo é a desumanização, é o adeus à vida, e é duro ser uma espécie de fantasma da cultura cercado de areias.

A Intimidade do Escritor

Há quase um ano sozinho, na antiga vida de solteirão. Tem sido duro, mas útil. De vez em quando faz-me bem estar só e desamparado. É nessas horas que sinto mais profundamente a significação de uma mulher ao lado do artista. A história literária exibe prodigamente o cenário feminino e mundano que aconchega os criadores e lhes embeleza a vida. Mas diz-nos pouco das companheiras quotidianas, domésticas e anónimas, a verem nascer a obra, a aquecê-la com chávenas de chá, e a renunciarem à alegria de a conhecer na emoção virginal de um leitor apanhado de surpresa. E nada de mais significativo e decisivo do que essa ajuda e do que essa renúncia. As Récamiers são o estímulo de fora, higiénico e lisonjeiro; enquanto que as outras, íntimas e apagadas, empurram o carro trôpego da criação debaixo de todos os ventos, e sem aplausos no fim. O seu lema é a aceitação calma e confiante dos desânimos, dos rascunhos, das mil tentativas falhadas. E quando a obra, finalmente acabada, empolga o público, já tem atrás de si um tal cansaço, uma tal soma de horas desesperadas, que só com um grande amor a podem ainda olhar.
Por esse amor não existir,

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