Deixar Sempre as Coisas a Meio
A grandeza, o verdadeiro luxo, está nessa displicĂŞncia algo aristocrática, nĂŁo na pior aceção da palavra, de deixar sempre as coisas a meio: esse copo de conhaque que se abandona na varanda do bar, as moedas que nunca mais se acabam de recolher da bandejinha em que o criado nos trazia o troco, os pratos por limpar, as tardes inteiras de torpor e moleza, desperdiçadas sem culpa porque sobra vida, porque haverá tempo. Essa Ă© a atitude que se opõe Ă do miserável a quem a necessidade mais visceral e mesquinha faz ver poesia nesse sorver atĂ© Ă Ăşltima gota o que a vida lhe oferece. E nĂŁo deita nada fora, entĂŁo, e guarda para amanhĂŁ, e mesquinhamente esconde as sobras para as aproveitar depois como um cĂŁo saciado que enterra os ossos junto de uma árvore para nĂŁo desperdiçar nem um grama de alimento; e molha no chocolate todos os churros que fazem parte da dose, mesmo a rebentar de cheio, caibam ou nĂŁo dentro do seu estĂ´mago. E mil vezes preferĂvel deixar sempre qualquer coisa no prato, desdenhar com elegância de parte do festim; jantar, por exemplo, com uma senhora admirável e permitir graciosamente que escape viva. E,
Textos sobre Elegância de Carlos Castán
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