Corpo e EspĂrito
A maior parte das pessoas tem um corpo que, ou Ă© desleixado, formado e deformado pelo acaso, e que parece quase nĂŁo ter relação com o seu espĂrito e o seu carácter, ou entĂŁo Ă© recoberto pela máscara do desporto que lhe dá o aspecto daquelas horas em que ele tirou fĂ©rias de si prĂłprio. Essas sĂŁo aquelas horas em que um homem desfia o sonho diurno da sua boa figura, que foi buscar Ă s revistas do grande mundo da elegância e da beleza. Todos esses jogadores de tĂ©nis, cavaleiros e corredores de automĂłveis, bronzeados e musculosos, com ares de baterem todos os recordes, apesar de, em geral, dominarem apenas razoavelmente a sua especialidade, essas damas bem vestidas ou bem despidas, sonham sonhos diurnos, e sĂł se distinguem do comum dos mortais que tĂŞm sonhos despertos porque o seu sonho nĂŁo permanece encerrado no cĂ©rebro, mas sai para o ar livre, como projecção da alma das massas, configurada de forma corpĂłrea, dramática, quase apetecia dizer, na linguagem de fenĂłmenos ocultos mais que suspeitos, ideoplástica. Mas tĂŞm em comum com os vulgares construtores de fantasias uma certa banalidade dos seus sonhos, tanto no que se refere ao conteĂşdo como Ă proximidade do estado de vigĂlia.
Textos sobre Elegância de Robert Musil
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